segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O pedantismo, a metodologia e os professores

Acredito que todos conheçam as normas da ABNT para o trabalho acadêmico: margens, fontes, estilos a serem usados, formas de citação etc... Sem dúvida, até certo ponto essa padronização é necessária para evitar as aberrações criadas por pessoas que pensam estar escrevendo um trabalho de Ciências para a 7ª série, mas há pessoas que levam isso de forma tão obsessiva, a ponto de transformar em grades o que deveriam ser guias para a execução de trabalhos consistentes.

Constato que alguns professores têm verdadeiro fascínio em demonstrar todo seu pedantismo, quando decidem julgar um trabalho não pelo seu conteúdo, mas sim pelas fontes usadas (como já aconteceu comigo no ensino médio: um professor decidiu tirar 0,5 ponto de um trabalho... por eu não ter usado a fonte que ele queria, mas sim uma outra bastante similar) ou por um alinhamento milimétrico que deixou de ser realizado. Pergunto se um deles passa, ou passaria, a noite debruçado sobre teses de mestrado com uma régua medindo cada uma das margens de um documento de 500 páginas.

Além de tal norma ser extremamente intrincada, a ponto de certos autores de livros sobre metodologia científica e professores de tal disciplina não a compreenderem totalmente. Também, podemos esperar o quê de uma norma criada na época das máquinas de escrever, que não considera o uso de sistemas de editoração eletrônica e processadores de texto (não confundir com editores de texto como o Word; estamos falando de ferramentas como o LaTeX, que podem gerar bibliografias e formatações complexas automaticamente) e que não é de fácil acesso pelo público? Uma expansão do conceito de security through obscurity. Uma norma paranoica, perfeita para pessoas idem, a ponto de desconsiderarem trabalhos por um suposto (pois, como já dito, muitos deles têm suas próprias definições para as partes mais obscuras) erro que não afetaria em nada a sua leitura.

(pergunto o que teria acontecido com Newton caso tal presídio já existisse na época da publicação de seu Principia).

Outro caso clássico da necessidade de auto-afirmação por meio do discurso vazio é a invenção e o abuso de linguagens rebuscadas. Não proponho que ninguém comece a falar ou escrever o probrema com os troço que nóis fêis na pizquiza é que fica ruin, nem atirar falácias por todos os lugares em que passa e prega sua palavra, mas vemos o abuso do jargão tanto por parte do aluno - interessado em fingir que aprendeu, mesmo que para isso precise novamente garantir a sua segurança por meio da obscuridade - quanto do professor, preocupado em mostrar serviço e impressionar seus alunos.

E, ironicamente, o abuso do jargão e da linguagem técnica contradiz sua própria definição, quando pessoas generalizam termos e expressões de uso específico e bem-definido, usando-os para descrever eventos e ideias já cobertas por um caso maior, mais abrangente.

Que se mantenham os formalismos e os vocabulários complexos (inclusive os matemáticos, marcados pelo seu rigor, o que leva muitos a odiar tal matéria) para as demonstrações, nas quais a rigidez fornecida por elas se torna necessária de forma a refletir a exatidão, o racionalismo e a impessoalidade da ciência. E que isso não seja confundido com querer disfarçar a falta de conteúdo, ou mesmo a incapacidade de dar uma aula, usando palavras bonitas e vazias. E que as normas sejam estruturadas de forma a garantirem a consistência e a produtividade, e não a confusão de todos aqueles que precisam entregar um trabalho ou produzir um relatório de experimento.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O ego, a incompetência e algumas distribuições Linux nacionais

Acredito que todo mundo já tenha visto aquelas distribuições Linux nacionais, fornecidas com os computadores populares. Quase sempre "quebradas", com pacotes obsoletos (como eu vi em uma delas: VirtualBox 1.5.0, sendo que já estamos na versão 3.0.4), e grande dificuldade na hora de instalar programas. Isso quando não cometem atrocidades maiores, como gambiarras diversas em arquivos de configuração mal-escritos e não-documentados. Coisas que o usuário final não nota, mas que para alguém que necessite configurar tais sistemas, traz muitos problemas.

Isso revela dois problemas de tais distros. O primeiro deles: a síndrome do precisamos fazer nossa própria distro, também conhecida como Not Invented Here (NIH). Uma reinvenção da roda desnecessária, que na minha opinião vai exatamente de encontro à própria ideia do software livre. Mas tudo bem, dizer que criou uma distro é engrandecedor, serve direitinho para que algumas pessoas possam se rotular de "desenvolvedoras".

Uma solução muito mais fácil e óbvia seria criar pacotes com as modificações, colocá-los em um repositório e aplicá-los em uma das várias distros end-user já disponíveis, assim garantindo a continuidade das atualizações - ao contrário de humilhar os usuários com versões antigas. E, também, se o usuário quisesse voltar à distro original, isso seria possível, assim como um usuário de Ubuntu pode "migrar" para o Kubuntu instalando um meta-pacote que nada mais faz do que depender dos pacotes relativos à distro desejada.

Poder-se-ia, por exemplo, pegar um Ubuntu ou openSUSE, acrescentar pacotes que reflitam as modificações desejadas, e aproveitar todos os repositórios, documentação e tutoriais, assim garantindo uma experiência mais agradável para os usuários iniciantes e acabando com a reinvenção da roda praticada em nome da satisfação pessoal.

Outro problema clássico é a síndrome de imitação do Windows. A intenção é boa, facilitar a migração, e talvez até funcione em ambientes corporativos, nos quais os usuários tem acesso restrito e pouco ou nenhum direito de instalação de programas e configuração. Exceto que... isso dificulta as coisas para um usuário doméstico, além de colaborar na criação da imagem de Windows de pobre, de cópia mal-feita.

Aparentemente, há uma falta de sinceridade e de capacidade em não tratar o usuário como um idiota. É possível, sim, criar desktops fáceis de serem usados e que não tenham uma imagem pixelada e desproporcional dizendo Iniciar, nem precisem roubar ícones do Windows (ironicamente, depois dessa, são os usuários Linux que reclamam de qualquer coisa que remotamente pareça ter sido copiada, mesmo que tal plágio não exista).

E ironicamente, o ambiente que "não deveria confundir o usuário" pode causar mais problemas. Quantas vezes já não vi um usuário desses sistemas tentando instalar o Messenger ou outro programa baixado do site da ... Microsoft? Embora o Wine já rode muito bem vários programas, ele ainda não é completamente plug-and-play.

(Um detalhe interessante: nunca vi um usuário que migrou de Windows para Mac reclamar da falta do botãozinho Iniciar ou que não tem Internet Explorer)

Mas não, para os desenvolvedores, tais ideias simples são muito distantes da realidade de quem quer poder afirmar que criou uma distro, mesmo sem ter como garantir a qualidade do sistema. Para eles, é necessário criar um ambiente sem nenhuma identidade, parcialmente compatível e completamente quebrado, assim fazendo com que o usuário-final pense o Linux é essa porcaria e alimentando os preconceitos sobre o sistema.