domingo, 20 de fevereiro de 2011

A maldição das impressoras



"Além dos cartuchos custarem mais caro que as impressoras, o que é mais irritante é quando a sua impressora deixa de funcionar a menos que todas as cores estejam disponíveis.

ERRO: Impossível imprimir 'AlgumDocumentoEmPretoEBranco.doc' pois a impressora está sem tinta ciano."

Hoje eu queria imprimir uma coisinha com a minha multifuncional. Coisinha simples, uma única página preto-e-branco. Porém, estou sem cartucho colorido (ele queimou depois de várias recargas), o que não deveria me afetar, obviamente.

Exceto que... ela simplesmente se recusa a operar sem cartucho colorido. Mesmo para um documento em preto-e-branco, preciso de um cartucho de R$ 50 e que não dura nada, visto que tem apenas 5 ml - isso nos dá incríveis R$ 10 mil por litro. Nem o petróleo é tão caro assim. Nada justifica que a tinta seja tão cara assim - se ela contivesse sangue de uma espécie rara de unicórnios encontrados apenas em uma pequena ilha no Atlântico Norte, quem sabe. Não é nenhum vinho sofisticadíssimo, é apenas uma mistura de derivados de petróleo!

Obviamente, isso se deve a uma estratégia análoga à venda a droga por um preço baixo e crie viciados. O objeto do "vício" é o cartucho de tinta; a impressora é vendida por um preço muito baixo, no conceito de loss leader: vende-se um produto pelo preço abaixo do mercado, e o lucro será obtido vendendo acessórios/suprimentos/planos para ele.

E muitas vezes, tenho a impressão (sem trocadilhos) que impressoras são os únicos eletrônicos que não evoluíram tanto quanto o ecossistema computacional ao seu redor. Aliás, tenho muitas vezes a impressão que elas regrediram.

Uma impressora de 10 anos atrás faz o mesmo trabalho que uma atual, mas não tem tantos badulaques, não precisa de um driver gigante [1], tem botões que me permitem pausar/cancelar uma impressão - ao contrário das atuais, onde tudo é por software, e me permite recarregar os cartuchos sem precisar de 'reset' ou afins para burlar os sistemas "anti-recarga" neles embutido.

Outra coisa que nunca me interessou é a impressão de fotos, sinceramente nunca vi motivação para fazer isso em casa: uma das coisas que mais gosto na fotografia digital é justamente não imprimir, e se eu quiser fazer isso, é muito melhor colocar as fotos em um CD ou pen-drive e levar a um laboratório fotográfico, onde posso imprimí-las por um preço razoável e com qualidade melhor.

Acabo fazendo a maioria das minhas impressões no xerox da universidade onde estudo. Pode ser mais caro, mas a qualidade é muito melhor, posso encadernar ali mesmo por uma pequena quantia a mais, e a longo prazo, a relação custo/benefício acaba compensando.

Tenho pouca utilidade para uma impressora ou multifuncional em casa, e portanto gostaria de alguma coisa simples, voltada àqueles que imprimem textos e ocasionalmente imagens, e que escaneiam uma figura ou foto de vez em quando. Nada de impressoras com sistemas operacionais completo em telas touch-screen, recursos para imprimir fotos em alta qualidade, scanners de alta definição, leitores de cartões para trocentos formatos e milhões de configurações: algo que apenas imprima, escaneie e copie.

Recomendo a leitura do excelente "Why I Believe Printers Were Sent From Hell To Make Us Miserable", de onde tirei a imagem que ilustra este post, para entender os principais problemas com as impressoras. Enquanto isso, vou me estressando com a impressora.

[1] A minha primeira impressora, há 10 anos atrás, vinha com um CD com todos os drivers necessários para os sistemas operacionais em uso à época, e estes mal ocupavam 100MB na mídia. Apenas despachei ela devido ao fato dela usar a porta paralela e não ter drivers para os Windows após o XP.

A minha impressora atual veio com dois CDs: um para Windows e outro para Mac. O driver ocupa uns 500MB na instalação mínima com todos os utilitários, e se eu quiser instalar apenas o driver? Boa sorte. Felizmente a HP é razoavelmente inteligente e os drivers para Linux são muito bons.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"Review": HD externo Hitachi XL1000

Obs: NÃO TENHO MAIS ESSE HD! NÃO TENHO COMO RESPONDER PERGUNTAS SOBRE ELE!

Comprei recentemente um HD externo Hitachi XL1000, de 1TB, para suprir minha necessidade por armazenamento e backup. Ele não é exatamente portátil (até onde eu sei não existe HD de 1TB 2.5", e ele efetivamente é um HD de desktop em uma case), tem a espessura de um livro mais grosso e precisa de fonte de alimentação externa (não é alimentado pela USB). 

Meu primeiro passo foi formatá-lo em outro sistema de arquivos. Escolhi o NTFS mesmo, devido à compatibilidade com ambos Windows e Linux. Mas testei ele brevemente com ReiserFS, criando e deletando arquivos, e não houve problema algum.

O desempenho dele é bom: não espero rodar uma máquina virtual a partir dele, mas testei com vídeos e eles rodaram bem. Uma possibilidade bem interessante, mas que não explorei por ela ser desnecessária para mim, é a de instalar um Linux em uma partição nele, encher o resto com drivers/utilitários/imagens de disco e e usar ele como um "HD de restauração" para o técnico/profissional de TI que precisa consertar computadores no seu dia-a-dia.

Uma sacada inteligente PRA CARAMBA dele é permitir que o usuário escolha qual o tipo de tomada que o adaptador usa. Realmente, MUITO bem pensado, especialmente para quem viaja para o exterior.

Outra coisa inteligente é o fato dele entrar em stand-by automaticamente quando o computador é desligado, ou seja, pode-se deixá-lo ligado sempre na tomada.

Os problemas dele:

- O LED de acesso faz com que o logotipo da Hitachi piscando, e isso se torna irritante após um tempo.
- Conectores são bastante frágeis e não inspiram confiança para conexão-desconexão repetitivos.
- Um pouco barulhento, mas isso não chega a afetar seu uso no dia-a-dia.
- O "startup" dele é lento, demora uns 15 segundos até estar disponível.

E infelizmente, se eu quiser acessar o HD em ambos Linux e Windows, eu precisarei formatá-lo no NTFS (não considero FAT32), e o ntfs-3g (aliás, primeira vez que uso ele: quando ele surgiu, eu já não fazia dual-boot e tampouco precisava de NTFS), mas isso não é culpa do dispositivo.

Só o tempo dirá se ele é um dispositivo robusto, mas no momento estou bastante satisfeito: consigo fazer backup dos meus arquivos do notebook (uns 160GB) e ainda sobra uma boa quantidade de espaço.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Mais uma da nossa amiguinha MPAA: desconectar o Google

A mais recente da MPAA: ela ameaçou tirar o Google da internet por supostas violações de copyright. Mais uma ideia daquelas que só poderia vir de advogados e executivos sem nenhum conhecimento técnico.

Primeiramente, o Google não tem um provedor. Ele É seu próprio provedor, e usa serviços de vários outros em vários países. Desconectar o Google não vai ser algo tão simples assim - se é que é possível. Gostaria de ver o mecanismo que a MPAA propõe para isto: vão cortar as  rotas BGP do Google, deixando ele no escuro?

Após: na remota hipótese de porcos voarem, vacas tussirem e isso ocorrer, o que será feito? Todos os domínios *.google.com redirecionarão para um this page was removed due to violation of the terms of service? Os serviços hospedados no Google morrerão - os mesmos que certamente são usados pelos próprios advogados da MPAA e dos estúdios, e por esmagadora maioria da internet? Isso irá causar um protesto de quase toda a internet. 

Outra coisa importante é que todos os mecanismos de identificação por endereço IP são falhos: é muito comum empresas terem um conjunto de conexões de internet para si, e elas servirem de conectividade para toda a empresa. Uma empresa com 5 mil funcionários pode ter 50 endereços IP alocados - ou seja, em caso de recebimento de denúncia, identificar quem-quando-onde-como torna-se praticamente impossível. Ao menos é o caso com o IPv4; com o IPv6, onde não há NAT e teoricamente TODOS podem ter endereços IP válidos, esse problema provavelmente será resolvido.

Um usuário doméstico, cuja conexão recebe um IP dinâmico a cada vez que ele liga o modem/disca para o provedor, pode ser erroneamente punido pelo que outro usuário fez com aquele mesmo endereço IP há alguns meses antes.

Por fim, tenho minhas dúvidas: DUVIDO que os executivos da MPAA, ou familiares deles, não tenham nada pirata em suas casas.
DUVIDO que as redes dessa própria MPAA não tenham sido usadas para pirataria.
Lembro que, na cidade onde eu morava há alguns anos atrás, um policial foi visto... comprando CDs piratas. Irônico, não? Quem observa os observadores?

Além disso, eles introduziram MUITAS pessoas ao mundo da pirataria: lembro da época em que ela ainda engatinhava, no underground da internet, e apenas os mais iniciados conseguiam usar o IRC para baixar uma música ou um filme.
E, do jeito que a MPAA/RIAA/* gostam de cantar vitória cada vez que um site com conteúdo pirata é tirado do ar... garanto que muitos leigos, que antes não sabiam o que era "baixar músicas", ouviram falar nisso com a grande mídia.

Tudo caminha em direção a uma vitória pírrica para a indústria da propriedade intelectual, algo suficiente para abalar a imagem de tais instituições, já degradada devido a tantos anos de paranoia injustificada (estamos em 2011, há uns 5 anos que eu cobro um estudo científico sobre o real efeito da pirataria no lucro da indústria) e infrutífera. Espero que os porcos voem e que este seja o tiro no pé definitivo para essas a$$ociaçõe$ repre$entante$ de uma indú$tria de produções de baixa qualidade.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Removendo recursos em nome do "minimalismo": o caso do GNOME 3

Uma das "novidades" no GNOME 3 será que o seu laptop/netbook automaticamente entrará em 'suspend' quando a tampa dele for fechada. No GNOME 2, o usuário pode escolher a atitude a ser tomada nessas circunstâncias, já no GNOME 3 tal opção somente poderá ser desativada pelo dconf.

A argumentação dos desenvolvedores do GNOME 3 gira em torno de ideias: "notebooks podem sobreaquecer e incendiarem quando fechados" e "queremos fazer uma interface simples". Ideias facilmente refutáveis de um ponto de vista mais power-user.

Para o caso da primeira, considero - do ponto de vista da engenharia - que nenhum laptop bem-projetado deva incendiar. Todos os processadores atuais têm mecanismos de proteção térmica, que modulam o seu clock ou desligam a máquina em caso de sobreaquecimento. E não vai ser com workarounds, mascarando problemas de hardware com software, que se resolverão defeitos em camadas inferiores (no kernel, ou mesmo falhas de projeto).

Eu não quero ter que interromper todos meus downloads que deixei rodando durante a noite com o notebook fechado (de forma a preservar a lâmpada e diminuir o consumo de energia), tampouco quero perder as conexões ssh ou chats no IRC que deixei abertos, ou mesmo uma compilação que leva a noite toda para rodar.

Soma-se a isso o fato do suspend não ser algo 100% funcional para todos os drivers (Intel com kernel antigo, por exemplo - suspend não funciona adequadamente), o que poderia gerar uma onda de frustrações e dores de cabeça - no meu caso, implicaria que não posso fechar meu laptop!

O segundo ponto: considero que de nada adianta simplificar e, no processo, prejudicar os usuários tirando recursos que em versões anteriores funcionavam bem e eram acessíveis de forma fácil (certamente muito mais fácil do que editar valores no dconf).

É uma pena que o GNOME esteja entendendo o menos é mais como tirar recursos que já funcionavam bem é tudo: ele poderia, se houvesse mais interesse dos desenvolvedores nesse aspecto, virar um exemplo de como é possível fazer um ambiente fácil de usar sem necessariamente privar os usuários de sua flexibilidade.

Mesmo o Windows permite que o usuário configure esse item, e a interface para tal parece suficientemente intuitiva mesmo para um não-geek. Pode não ser um primor de usabilidade, mas claramente é muito mais usável que editar entradas num registro (uma das grandes dores-de-cabeça do Windows, agora disponível para o Linux) - o que ironicamente contradiz as ideias de usabilidade e simplicidade.

Como solução, certamente aparecerão ferramentas no estilo do Ubuntu Tweak, que permitirão ao usuário desativar tal recurso - espero que o pessoal do GNOME seja esperto o suficiente para retornar os controles às mãos do usuário, e não sujeitá-los às arbitrariedades de pessoas que não conhecem o perfil de uso de cada pessoa.

Mas obviamente, precisar de uma ferramenta de terceiros para tapar os buracos de algo que já existia e foi extirpado, já complica as coisas para o usuário não-geek, aquele que o Linux quer (e precisa) cativar - o que é mais simples de fazer, digamos, por telefone: "fulano, vai em Sistema, depois em Preferências e depois em Energia, daí tu desativa" ou "instala tal coisa, depois vai em tal lugar, depois em outro"?

Sinto que o GNOME está indo pelo caminho errado: tratando o usuário como um idiota que não precisa - e nem deve - configurar nada, que sempre se contenta com programas com meia dúzia de configurações, e que aceita que outras decisões se imponham na forma como ele trabalha.

Pelo menos já migrei para o KDE, que me oferece uma boa quantidade de configurações facilmente acessíveis, e que não se apega a um minimalismo mamãe, quero ser Apple! que acaba se tornando restritivo, ao obrigar o usuário a mudar sua forma de trabalhar em vez de se adaptar ao meu dia-a-dia.