quinta-feira, 3 de março de 2011

Anotações sobre alunos incompetentes na universidade

Normalmente, reconhece-se um aluno potencialmente incompetente ainda no ensino médio. É aquele aluno que só estuda para as provas um dia antes, que dá um jeitinho de fazer trabalhos no copia-e-cola ou Fulano, coloca o meu nome aí, que vai pra aula pra bater boca e xingar o professor. Embora hajam exceções, tais características invariavelmente tendem a se transportar quando ele entra no ensino superior.

Ele é o legítimo aluno-porta. É aquele que não adiciona nada às aulas, que não argumenta, que não opina, nada. Comporta-se como se estivesse no ensino médio, só que com bebida e festas. Deixa estudos para a última hora, fazendo madrugadões e depois dormindo em cima da prova, e assim faz com que sua formatura fique para o infinitésimo semestre.

Ele é desinteressado, e sempre deixa pra fazer trabalhos na última hora, copiando e colando - e às vezes mudando a ordem das palavras, para evitar eventuais detecções de plágios que possam ocorrer. Apresentações de trabalhos? Ele dá um jeitinho de se esquivar, ou de fingir muito bem, o suficiente para não reprovar. Aliás, não reprovar é com ele mesmo - o que é diferente de saber a matéria: ele sempre dá um jeitinho de colar nas provas.

Não se interessa por nada e não vai atrás de assuntos que o interessem, espera que todo o conhecimento venha aparecer na cabeça dele por osmose - o que invariavelmente não ocorre. É aquele aluno que não liga para nada e está interessado apenas em se formar de qualquer jeito. 

Pergunto: que profissional será ele quando se formar? Certamente não será nenhum grande profissional. Há então duas opções: ou será um mau profissional, daqueles que será proibido de exercer a profissão, ou será um profissional mais-ou-menos, que faz um trabalho meia-boca, só para tapar buracos e garantir seu salário no fim do mês. Mesmo tendo o diploma, ele não terá a responsabilidade necessária para exercer a sua profissão - algo que se constrói durante a universidade, com trabalhos, projetos etc... os quais ele sempre dava um jeitinho de burlar.

Ele não se valorizará como profissional: pegará o emprego mais mixaria que puder, por não ter capacitação para exercer um cargo onde as exigências sejam altas - visto que ele sempre fugia de todas as dificuldades e desafios que a universidade fornecia para ele aprofundar seus conhecimentos. Não vai precisar querer colocar em prática o quase-nada que ele sabe.

E esse aluno incompetente, infelizmente, está tomando o lugar de alguém interessado. Alguém que conseguiria tirar algo dos seus anos na universidade, mas que não conseguiu passar no vestibular. Alguém que realmente aproveitaria a oportunidade.

A universidade requer uma mudança na forma de pensar e de encarar os estudos. O aluno está nela por opção (tirando os raros casos em que os pais obrigam, ou vencem pela teimosia ou birra) e dela pode se desligar se quiser: não está mais no ensino obrigatório. Mas, se prefere estar nela, que o faça de forma efetiva, e não apenas fingindo.

E também é necessária mais dureza por parte dos professores: é necessário coibir (e punir quando necessário) o copiar-e-colar, e projetar provas que exijam que o aluno pense, e não apenas despeje informações e cálculos nela. Pois é assim que qualquer profissão funciona: não há perguntas teóricas, há problemas a serem resolvidos - os quais necessitam do conhecimento teórico e dos cálculos para tal.


Foto: "What you don't want to see by your student programmer's computer", do usuário quinn.anya no Flickr.