sábado, 13 de outubro de 2012

A morte do PC: ainda não

Os rumores sobre minha morte foram exagerados. - Mark Twain

Virou lugar-comum dizer que o PC está obsoleto e que estamos na era de um "pós-PC" baseado em tablets e smartphones. Nada poderia estar mais longe da verdade. Vejamos por que:

  • Em primeiro lugar: a maioria dos computadores atuais já atingiu um patamar de "bom o suficiente" para a maioria das pessoas. Não vai ser a troca de um Core 2 Duo para um i3 ou i5 que vai tornar um usuário doméstico ou corporativo comum (Office, internet e talvez alguma outra coisa) mais produtivo.

    Claro que sempre haverão áreas onde é necessário maior poder de processamento. Mas eles representam ínfima parcela do mercado (quantos daqui realmente são gamers ou trabalham profissionalmente com edição de áudio/vídeo ou desenvolvimento?), não pesam muito nas estatísticas.

    A situação é ainda mais estável em ambiente corporativo: aquele velho Pentium 4 é mais do que suficiente para acessar o sistema da empresa e o IE 6 (e consequentemente o Windows XP) necessário para acessar a intranet desta. Há também todo um custo - nada bem-vindo em tempo de crise - envolvido para atualizar e homologar novos sistemas operacionais.

    A consequência disso? Um alarmismo de 'as vendas de computadores novos se reduziram', o que está levando à falaciosa conclusão de que 'o PC está morrendo'. Ele não está morrendo: trata-se simplesmente dele ter chegado ao nível 'bom o suficiente' para muitos.
  • Produtividade em tablets e smartphones? Ainda é limitada. Não consigo imaginar ninguém produzindo grandes documentos nesses dispositivos, ou fazendo qualquer atividade que exija maior poder computacional.

    Sim, eu posso usar teclado externo nesses dispositivos, mas... (invocando o Philosoraptor) daí eles não se transformam em notebooks?

    Para desenvolvimento? Pior ainda: tablets estão longe de ser autossuficientes, não podemos desenvolver software para eles neles mesmos. Os dispositivos da Apple nunca terão essa característica por razões bem óbvias (tornaria a App Store, menina dos olhos da Apple, desnecessária), e mesmo no Android o desempenho do hardware inviabiliza grandes compilações.
  • A nuvem... ah, a nuvem. Pena que ela seja inviável no Brasil e em muitos países em desenvolvimento, onde a infraestrutura de internet móvel ainda é limitada, e mesmo nos países 'desenvolvidos' ela esbarre em problemas de cobertura e principalmente: limites de tráfego.

    Alguns gigabytes de franquia vão com facilidade quando tudo está online, e então voltamos à velocidade de discada. Sem falar nos óbvios problemas com privacidade, direitos de usuário etc...
  • Desktops e notebooks ainda são mais baratos que tablets, principalmente nos países em desenvolvimento, e entregam muito mais valor.

    Mesmo um desktop de 5 anos de idade, que pode ser comprado usado, consegue rodar softwares atuais de forma adequada com alguns upgrades não tão caros (passar um computador de 2 para 4 GB de RAM é muitas vezes suficiente). O mesmo não se pode dizer (ou melhor, não se poderá dizer - veremos daqui a uns anos, quando o primeiro iPad fizer 5 anos) dos tablets.
  • PCs dão uma liberdade muito maior do que dispositivos que precisam de rooting ou jailbreak para permitir o uso irrestrito. Em um PC, posso instalar o sistema operacional e o software que eu quiser (por meios lícitos ou não), sem depender de uma loja de aplicativos.

    Se o Windows não me permite ou me limita a fazer alguma coisa, posso usar o Linux, e o contrário também é verdadeiro; ou posso usar diversos sistemas ao mesmo tempo - algo obviamente impossível de fazer com um dispositivo móvel. Se o meu sistema operacional tem problemas com licenças ou DRM, uso outro: algo que nenhum tablet ou smartphone permite sem gambiarras extensivas.

  • É muito mais difícil garantir a segurança de um dispositivo móvel do que a de um computador preso a uma mesa. Nem preciso enumerar os casos de vazamentos de dados e as complicações trazidas pelo fato de alguém esquecer seu smartphone ou tablet em algum lugar.
  • Por fim: nos dispositivos móveis, existe o consumismo burro encanto de saiu um modelo novo com mais recursos/hardware melhor, o que por si só já é suficiente para motivar a troca de dispositivo: mais uma vez, inflando o mercado.
Concluindo: os tablets e os smartphones estão ganhando mercado? Sim, mas ele não é excludente com o mercado já estabilizado dos computadores pessoais. Faça um teste: conte quantas pessoas que você conhece tem um computador, um smartphone e um tablet. Ficou óbvio agora, não?

O que já vemos é um maior consumo de conteúdo em dispositivos móveis - que é o que a maioria dos usuários casuais faz - e o computador sendo deixado para eventualmente fazer algum trabalho mais elaborado. Nos usuários corporativos (especialmente quem não depende de softwares de nicho e nem de processamento pesado para seu trabalho), veremos uma situação similar: o computador fica na empresa, o tablet vai a campo e o smartphone fica 24 horas com a pessoa.


Mas isso está longe de ser o canto do cisne do computador pessoal: ninguém conseguiu substituir ele de forma completa, exceto talvez para os usuários muito casuais e cujo uso seja restrito a navegar em alguns sites e brincar com alguma app (vejo a maioria das apps como brinquedos) de vez em quando. O caminho provavelmente vai ser a convergência, e todos viverão felizes para sempre.