Infelizmente, ainda é muito comum vermos gambiarras vindas de diferentes áreas da engenharia. De instalações elétricas feitas naquelas, passando por máquinas consertadas com peças inadequadas, placas de circuito nas quais foram empregadas quantidades industriais de Super Bonder, circuitos elétricos sobrecarregados com milhares de tomadas e canos projetados para uso com água sendo usados para substâncias inflamáveis, muitos são os jeitinhos que vemos por aí, em grandes construções, indústrias e outros lugares.
Nessas horas, pergunto: o que houve com a educação de nossos profissionais? Esqueceu-se o fazer certo? Prefiro acreditar que não, mas o fato é que muitas vezes as pressões pelo fazer mais rápido, pelo cortar qualidade em nome do custo final, pesam demais. E, infelizmente, por mais que tentemos rejeitá-las, é o que o mercado cobra em muitos casos. Mesmo que o custo venha depois, e em dobro.
Soma-se a isso o fato de isso criar uma cultura do faz de qualquer jeito, de forma que a educação para a segurança do trabalho se torna algo impossível. Afinal, como podemos criticar alguém que decidiu que um fusível pode ser substituído por um pedaço de arame farpado, se muitas vezes os próprios engenheiros são culpados de diversos mal-feitos?
Também há a mania - não tão difundida na Engenharia, até mesmo pela regulamentação dessa profissão, mas tristemente comum na Informática - de chamar o filho do vizinho do namorado da Fulana, que supostamente "entende tudo" e cobra muito menos que uma hora técnica. Para a vítima, digo, o cliente, é um excelente negócio. Até a hora do problema, na qual o "entendido" desaparece ou se recusa a reconhecer a responsabilidade pelo que fez.
Ou mesmo quando o cliente decide dar o seu próprio jeitinho, para economizar um pouquinho de dinheiro. Mesmo que não valha a pena.
Isso também colabora para a criação de uma segurança através da obscuridade, aquela que sabemos ser pouco eficiente, e causadora de diversos problemas na hora em que surge a necessidade de uma manutenção. Para o projetista, parece uma excelente ideia, que garantirá seu emprego (pois apenas ele conhece o sistema ou o projeto). Talvez funcionasse, se o trabalho em equipe não fosse cada vez mais constante nas empresas. E, para tal forma de trabalho, esconder os detalhes não apenas é inútil como é perigoso.
Todo mundo que já tentou desmontar e consertar um eletrônico descartável já foi vítima do problema do parágrafo acima. Prefiro me manter cego às gambiarras que provavelmente foram feitas internamente.
Como futuro profissional de engenharia, considero inadmissíveis tais comportamentos anti-profissionais, que podem levar ao prejuízo da imagem de uma pessoa ou mesmo de uma empresa. Por mais que seja divertido resolver problemas de forma não-ortodoxa, com materiais inusitados e montagens diferentes do comum, lembremos que a Engenharia exige planejamento, regularidade, documentação, possibilidade de manutenção e, principalmente, profissionalismo. O que nem de longe combina com gambiarras, jeitinhos e outras "soluções" do tipo.
E, por mais que isso doa no bolso dos clientes, é necessário que seja criada uma consciência que objetive resolver problemas por inteiro, e não simplesmente um toma lá dá cá. Uma análise e prevenção sistemática das causas que levam a defeitos ou falhas. Se um fusível estoura diversas vezes, uma máquina elétrica sobreaquece com facilidade, ou um disjuntor desarma repetidamente, há um motivo por trás, e não adianta mascarar o problema com um pedacinho de fita isolante ou um grampo desdobrado.
É, também, necessário que se delimitem as funções. Operadores de máquinas não são engenheiros ou técnicos de manutenção para realizarem tal função, da mesma forma que pessoas sem capacidade de assumir a responsabilidade pelo que fizeram não devem ter autorização para assinar ou gerenciar projetos.
Sendo a engenharia uma ciência, não há espaço para jeitinhos que se acumulam em cascata e resultam em uma catástrofe depois de um tempo. Não existe sistema perfeito, mas sim sistemas projetados para serem resistentes e robustos. O que não irá se obter com rolos de fita isolante, nem com ligações diretas entre pinos. É hora de se criar uma cultura do bem-feito na engenharia, que abranja do profissional ao cliente.