Outro dia, quando estava em uma banca, peguei uma revista destinada aos audiófilos e cinéfilos. Reviews de amplificadores, caixas de som, tocadores de Blu-Ray, TVs de grandes dimensões (até aí tudo bem)... e cabos USB sofisticadíssimos. Cabos USB! Especialmente esse aqui (não lembro se era esse o modelo, mas ilustra o que eu quero explicar). Maravilhem-se: US$ 2849 por 3 pés (isto dá US$ 3100/m, módicos R$ 5296). Uma pechincha!
Sinais digitais são digitais, o Cap. Óbvio mandou dizer. Muitos deles contêm algoritmos de correção de erros (p. ex. as mídias ópticas têm um código que permite que um CD levemente arranhado não dê problemas [1]), ou seja, dificilmente você vai perceber um 'bit perdido'. E um HD externo, ou uma câmera digital profissional, têm uma velocidade de transmissão e uma largura de banda muito maiores que um sinal de áudio: não seria sensato, então, que os fabricantes de tais dispositivos usassem cabos mais sofisticados? Não é o que vemos, entretanto: esses dispositivos têm um cabo comum, "made in China" (como se os cabos audiófilos fossem fabricados com cobre minerado por duendes alemães).
Mas o pior são os cabos de força "audiófilos", que não introduzem coloridos no som (teria isso algo a ver com Restart e afins? - na verdade, 'coloridos' é um termo técnico utilizado para as alterações que o processamento do sinal implica sobre o áudio). Falam de efeito skin, transcondutância, 'amaciamento de componentes' etc..., abusando do eletromagnetismo e da engenharia (pergunto quantos audiófilos são engenheiros eletricistas/eletrônicos). O 'amaciamento de componentes' supostamente encontra embasamento no 'burn-in' empregado na engenharia de confiabilidade, que consiste em testar componentes em condições não-ideais, de forma a selecionar aqueles obviamente ruins (protip: isso não inclui a sua casa, com seu cachorro mordendo os cabos)
E novamente, aplica-se a lógica que já citei anteriormente: se o cabo importa tanto assim, computadores, monitores, TVs, equipamento de teste etc... viriam com cabos de força com as características que eu descrevi. Aliás, tem gente que diz que cabos audiófilos melhoram a qualidade do vídeo. Eu esperaria, então, que um monitor high-end viesse com esses cabos - o que não é o visto por aí. Talvez ficasse a sugestão para a Apple?
Também há a classe dos "powerlines", "filtros de sinal" etc.... como este. Algumas coisas que o dispositivo promete até têm um certo fundamento eletrônico (por exemplo, a correção do fator de potência, a partida suave) mas não são relevantes para áudio: equipamentos de boa qualidade são projetados justamente para tolerarem esses 'pequenos picos' de energia, e o usuário doméstico não tem muito a ganhar com a correção do fator de potência.
Mas o EXTREMO foi um desmagnetizador de CD. Acho que qualquer pessoa que tenha nascido nos últimos 30 anos (o CD foi lançado comercialmente em 1982, e já está no mercado brasileiro há uns 15 anos) sabe que CDs/DVDs/Blu-Rays são mídias ópticas, logo não sofrendo magnetização. Algo digno de um facepalm.
Um estudo objetivo para provar a não-diferença entre tais cabos envolveria o uso de osciloscópios, analisadores de espectro etc... e provavelmente os órgãos de fomento à pesquisa não têm dinheiro para gastar com pseudociência.
Uma boa instalação elétrica, uma alimentação sem oscilações, cabos que não tenham quilômetros de comprimento, evitar as fontes óbvias de interferência - por exemplo, máquinas elétricas, etc... são importantes para a vida útil do equipamento, e obviamente a experiência do usuário pode ser prejudicada por um cabo danificado ou epicamente ruim, ou por um ambiente com uma acústica inadequada ou fones comprados em camelô. Mas não justificam gastar centenas de reais em cabos "audiófilos", nem em dispositivos que supostamente melhoram a qualidade do áudio.
Por falar em instalação elétrica, vi em outra revista voltada ao público audiot... er, audiófilo, uma pessoa que argumentava que nunca se deveriam desligar os amplificadores e outros equipamentos, pois a energia elétrica era o oxigênio do equipamento (de certa forma faz sentido) e desligá-la era deixar o equipamento sem ar. É aquele típico momento que só pode ser representado por um facepalm.
Não vou entrar, também, no mérito dos amplificadores valvulados vs. os amplificadores transistorizados: isso é assunto para um outro post. Os amplificadores valvulados continuam sendo preferência entre guitarristas e outros músicos, devido ao som sujo causado pelas válvulas saturadas (corrijam-me se eu estiver errado).
E se algum audiófilo quiser me refutar, será bem-vindo, desde que empregue métodos científicos (e não observações subjetivas incentivadas pela necessidade de não se arrepender dos R$ 5 mil gastos em cabos) para determinar que, sim, um cabo USB de R$ 5 mil é melhor que um cabo de R$ 15. Estou armado com osciloscópio e gerador de funções. Alguém encara?
[1] Tive, uma vez, um CD de música que simplesmente se recusava a tocar em qualquer computador, só tocava em aparelhos de som. Não era nenhum método "anti-pirataria", pois o CD era anterior à crise de paranoia das gravadoras. Mistérios que nunca resolverei.
Referências:
http://www.theaudiocritic.com/back_issues/The_Audio_Critic_26_r.pdf
http://dvice.com/archives/2008/09/1800-power-cord.php
http://www.lessloss.com/
http://www.htforum.com/vb/showthread.php/74141-Cabo-audi%C3%B3filo-na-tv!
http://www.ferraritechnologies.com.br/versao/pt/transparent/linha_de_forca.asp
Opiniões e considerações sinceras sobre temas diversos, vindas de um engenheiro que escreve nas horas vagas (ou o contrário).
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sábado, 18 de dezembro de 2010
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
MPD (Music Player Daemon): introdução
Há mais de um ano atrás, adotei o mpd como meu player de áudio principal, quase ao mesmo tempo em que abandonei desktop environments e migrei para o Openbox. Neste artigo venho a escrever um pouco mais sobre essa ferramenta.
Vantagens:
- Leveza: o daemon consome apenas 15MB de RAM mesmo com uma playlist de 20 mil itens.
- Compatibilidade com a filosofia UNIX: pode-se interagir com o mpd usando shell scripts, programas externos ou bindings para linguagens como C, Python, Ruby, Java etc..., ou mesmo por telnet. Ele também pode ser integrado com programas como o conky.
A principal desvantagem dele, para alguns, é o fato dele não ter eye candy, nem recursos como integração com sites de download de música ou o Last.fm.
Mas, para quem procura simplesmente ouvir música e ter um player robusto e que possa ser controlado remotamente, ele é uma excelente opção.
Instalação/Configuração:
- No Arch Linux basta apenas um pacman -S mpd e depois adicionar mpd à linha DAEMONS do rc.conf.
Depois, criamos um arquivo /etc/mpd.conf com as configurações dele.
O arquivo exemplo (mpd.conf.example) é extremamente bem-comentado, mas incluo o meu mpd.conf com as opções necessárias à maioria dos usuários.
- Também precisamos de algo para interagir com o player. Recomendo instalar os 'mpc' e o ncmpcpp-git (disponível na AUR), um cliente em modo-texto (ncurses) para o mpd. Opções gráficas são o 'gmpc', o 'sonata', entre outros.
Este último também tem um arquivo de configuração que deve ser salvo em ~/.ncmpcpp/config e que, novamente, é muito bem documentado. Meu exemplo encontra-se aqui.
- Agora, iniciemos o daemon com '/etc/rc.d/mpd start'. Se tudo der certo, ele deve demorar um pouco para construir a lista de músicas.
Uso:
- Para criar uma playlist, execute o ncmpcpp, aperte [Tab] e use a barra de espaço para adicionar uma pasta. A operação desse browser é similar a de um gerenciador de arquivos.
- Depois, voltando à playlist (aperte [Tab] novamente), selecione uma música e aperte ENTER para começar a reprodução.
As teclas de atalho mais importantes são (notando que o programa é sensível a maiúsculas e minúsculas):
's' = parar
'P' = pausa
'< >' = faixa anterior/próxima
'b/f' = retroceder/avançar na música
setas esquerda e direita = diminuir e aumentar volume
'r' = modo de repetição
'z' = modo aleatório
'y' = repetir a mesma faixa
'R' = modo 'consume' (tira as faixas da playlist depois que elas
tocarem)
'Z' = embaralhar a playlist
'u' = atualizar o banco de dados (usar quando novas músicas forem
adicionadas; o mesmo pode ser feito pelo comando 'mpc update').
'/' = procurar na playlist
O programa tem um help completo, bastando apertar F1.
- Para manipular o player pela linha de comando (ou por shell scripts, atalhos de teclado etc...), usamos o 'mpc'. Não irei copiar o help dele (acessível pelo 'mpc help'), mas alguns comandos básicos são (acredito que os nomes sejam bastante óbvios):
mpc stop mpc play mpc next mpc previous mpc toggle (alternar play/pause) mpc stats (mostrar informações do DB: quantas faixas, quantos artistas, quando foi a última atualização).
- Para que o mpd envie faixas ao last.fm, podemos usar o
mpdscribble. Sua configuração, novamente, é bem simples; acredito que quem chegou até aqui não terá dificuldade em fazê-lo seguindo o exemplo.
Conclusão:
Embora o mpd talvez não atenda aos usuários que procuram toneladas de recursos em um player, ele é bastante adequado para os usuários de ambientes leves (como eu, que normalmente uso o Openbox) e que procuram um tocador leve, simples e que segue a filosofia UNIX. Além, é claro, da vantagem dele ser completamente independente do X.
Figuras:
Modo alternativo comparado com o modo clássico (a diferença é a barra no topo; o '0 terminal 1 IRC...' abaixo não é do ncmpcpp, mas sim do screen)
Modo colunas comparado com o modo tradicional.
Vantagens:
- Leveza: o daemon consome apenas 15MB de RAM mesmo com uma playlist de 20 mil itens.
- Compatibilidade com a filosofia UNIX: pode-se interagir com o mpd usando shell scripts, programas externos ou bindings para linguagens como C, Python, Ruby, Java etc..., ou mesmo por telnet. Ele também pode ser integrado com programas como o conky.
A principal desvantagem dele, para alguns, é o fato dele não ter eye candy, nem recursos como integração com sites de download de música ou o Last.fm.
Mas, para quem procura simplesmente ouvir música e ter um player robusto e que possa ser controlado remotamente, ele é uma excelente opção.
Instalação/Configuração:
- No Arch Linux basta apenas um pacman -S mpd e depois adicionar mpd à linha DAEMONS do rc.conf.
Depois, criamos um arquivo /etc/mpd.conf com as configurações dele.
O arquivo exemplo (mpd.conf.example) é extremamente bem-comentado, mas incluo o meu mpd.conf com as opções necessárias à maioria dos usuários.
- Também precisamos de algo para interagir com o player. Recomendo instalar os 'mpc' e o ncmpcpp-git (disponível na AUR), um cliente em modo-texto (ncurses) para o mpd. Opções gráficas são o 'gmpc', o 'sonata', entre outros.
Este último também tem um arquivo de configuração que deve ser salvo em ~/.ncmpcpp/config e que, novamente, é muito bem documentado. Meu exemplo encontra-se aqui.
- Agora, iniciemos o daemon com '/etc/rc.d/mpd start'. Se tudo der certo, ele deve demorar um pouco para construir a lista de músicas.
Uso:
- Para criar uma playlist, execute o ncmpcpp, aperte [Tab] e use a barra de espaço para adicionar uma pasta. A operação desse browser é similar a de um gerenciador de arquivos.
- Depois, voltando à playlist (aperte [Tab] novamente), selecione uma música e aperte ENTER para começar a reprodução.
As teclas de atalho mais importantes são (notando que o programa é sensível a maiúsculas e minúsculas):
's' = parar
'P' = pausa
'< >' = faixa anterior/próxima
'b/f' = retroceder/avançar na música
setas esquerda e direita = diminuir e aumentar volume
'r' = modo de repetição
'z' = modo aleatório
'y' = repetir a mesma faixa
'R' = modo 'consume' (tira as faixas da playlist depois que elas
tocarem)
'Z' = embaralhar a playlist
'u' = atualizar o banco de dados (usar quando novas músicas forem
adicionadas; o mesmo pode ser feito pelo comando 'mpc update').
'/' = procurar na playlist
O programa tem um help completo, bastando apertar F1.
- Para manipular o player pela linha de comando (ou por shell scripts, atalhos de teclado etc...), usamos o 'mpc'. Não irei copiar o help dele (acessível pelo 'mpc help'), mas alguns comandos básicos são (acredito que os nomes sejam bastante óbvios):
mpc stop mpc play mpc next mpc previous mpc toggle (alternar play/pause) mpc stats (mostrar informações do DB: quantas faixas, quantos artistas, quando foi a última atualização).
- Para que o mpd envie faixas ao last.fm, podemos usar o
mpdscribble. Sua configuração, novamente, é bem simples; acredito que quem chegou até aqui não terá dificuldade em fazê-lo seguindo o exemplo.
Conclusão:
Embora o mpd talvez não atenda aos usuários que procuram toneladas de recursos em um player, ele é bastante adequado para os usuários de ambientes leves (como eu, que normalmente uso o Openbox) e que procuram um tocador leve, simples e que segue a filosofia UNIX. Além, é claro, da vantagem dele ser completamente independente do X.
Figuras:
Modo alternativo comparado com o modo clássico (a diferença é a barra no topo; o '0 terminal 1 IRC...' abaixo não é do ncmpcpp, mas sim do screen)
Modo colunas comparado com o modo tradicional.
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