Começamos com uma definição que eu vi em uma palestra sobre Planejamento Profissional no semestre passado: "a pessoa rica é aquela que tem condições de manter seu estilo de vida mesmo que perca a fonte de renda". Uma definição bem interessante, que diverge radicalmente daquela imposta pelos meios de comunicação e propaganda, a qual é baseada no consumo e na ostentação.
De cara, já vemos que os playboys, patricinhas, novos-ricos e outros estilos de vida fúteis, baseados no consumismo, não funcionam e seus "detentores" (se é que assim os podemos chamar) - por essa definição - não podem ser chamados de ricos, embora façam questão de esfregar isso na cara de todo seu círculo de (pseudo-)amigos. A partir daqui, já posso traçar várias linhas divisórias entre os ricos e os novos-ricos.
Os ricos construíram suas economias com esforço. Trabalharam, estudaram, começaram em atividades simples como bancários, vendedores etc... e muitos deles (excetuando aqueles que conseguiram ganhar fortunas por sorte ou por herança) se privaram de diversas coisas enquanto mais simples (e ainda se privam, ao contrário do estereótipo da mídia) para conseguir ter um padrão de vida considerado alto.
Os novos-ricos são o que o próprio nome já diz: receberam (ou economizaram) uma boa quantidade de dinheiro, e agora, de posse dela, torram boa parte delas em símbolos de status que eles não precisam, em palhaçadas espalhafatosas, com o bom-senso para escolhas inibido devido à sua euforia, preferindo comprar tudo do mais caro mesmo que não combine com a personalidade deles, afinal eles podem. Eletrônicos de marcas famosas (ainda que levem o mesmo Made in China e os mesmos componentes de outras marcas mais baratas, tendo como único diferencial um logotipo), carros sofisticados e imponentes (por exemplo, um SUV para andar na cidade, mesmo esses carros tendo seu consumo em litros por quilômetro), roupas e tranqueiras de luxo (que tal um casaco de pele em um país tropical?) etc.... Tudo aquilo que eles precisam para gozar seu papel no suposto high-end do qual se consideram parte.
Ricos "clássicos", aqueles que construíram um sucesso, normalmente têm alguma história de vida ou conteúdo para contar. Têm educação (tanto no sentido acadêmico quanto no sentido de comportamento) e discrição, muitas vezes servindo como role models (não sei a melhor palavra em português) para alguns. Neste ponto, são facilmente distinguidos dos novos-ricos, cujos poucos assuntos giram entre compras, celebridades etc... e que, no máximo, servem como anti-modelos.
Também é um hábito dos novos-ricos usar argumentos tão robustos e civilizados quanto vai trabalhar, vagabundo, deixa de ser Zé-ninguém. De onde se constata que, embora a inteligência e o conhecimento possam ser ferramentas para construção do verdadeiro rico (no sentido financeiro e material, não no intelectual e espiritual), o oposto não é verdadeiro. Eles não vão hesitar em encontrar métodos elaborados para humilhar pessoas julgadas "inferiores" e aplicar toda sua arrog...sofisticação nelas. Mesmo que um dia o novo-rico tenha sido pobre, quem se importa? Ele tem o direito de destratar a todos. E se alguém se ofender, não há nada que um dinheirinho não resolva.
Mas em situação mais crítica que as pessoas acima citadas, encontram-se os wannabes. São similares aos novos-ricos, com o agravante de não serem ricos e, para se manterem no high-end, de forma a chamar a atenção e mostrar que supostamente podem, afogam-se em empréstimos, financiamentos, cartões de crédito entre outros, formando uma recursão cujo limite é o infinito negativo, fazem malabarismos com múltiplos empregos para conseguir satisfazer os devedores etc...
Ou mesmo preferem apelar para o velho se você não é, pareça. Compram falsificações que parecem as originais e se dão por satisfeitos. Montam home theaters sofisticados para assistir DVDs piratas comprados no camelô (já vi isso acontecer) e compram smartphones e computadores sofisticados para... apenas acessar o Orkut e o MSN. Vão a lugares sofisticados, consomem tudo que podem e jogam tudo no cartão de crédito... cuja fatura eles não conseguem pagar!
E, quando o estilo de vida cai - por motivos diversos, seja por estar no N-ésimo empréstimo para pagar o N'-ésimo cartão de crédito, seja porque simplesmente o dinheiro do papai acabou ou a fonte foi cortada - tudo torna-se trevas. E os amigo$ que eles alien...fizeram na alta sociedade, todos desaparecem.
Seus filhos também vivem no mesmo estilo. Não aprendem a ouvir não dos pais, sempre têm todos seus desejos satisfeitos e, no lugar da atenção dos pais (muito ocupados, pois estão envolvidos na alta sociedade), recebem todos os presentes que querem - por mais desnecessários que sejam, tornando-se perfeitas crianças consumistas, idiotas, incapazes de reconhecer o valor do dinheiro e do trabalho, e que aprendem desde cedo a chantagear seu caminho e a não se misturar com a gentalha inferior, pobre. Tais pais, tal filho. E assim sucessivamente, a menos que o ciclo seja quebrado por motivos diversos.
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A propósito, alguém se lembra da bolha da Internet nos anos de 2000/2001? Vários jovens empreendedores ficaram ricos, investindo em luxo para suas empresas high-tech, para simplesmente ... verem suas empresas (que nunca deram lucros efetivos, se baseando apenas em investimentos) serem engolidas da noite para o dia. Um dos exemplos mais clássicos de novo-rico que eu lembro, e uma lição de conservadorismo (no aspecto gastos) para muitos dos empresários atuais.
Nenhuma das pessoas que eu considero ricas, ou com um bom padrão de vida, chegou a essa situação se comportando como novo-rico. Todas elas chegaram lá daquele velho jeito chato, burocrático e totalmente não divertido: economizando dinheiro, tabelando seus gastos e calculando o quanto podem gastar - e desse valor gastando apenas uma pequena porção e fazendo com que o resto trabalhe para eles através de investimentos e negócios, para que não precisem depois entrar nas diversas armadilhas do crédito fácil.
E também penso que, se houvesse uma educação financeira, na construção de uma cultura que inibisse os esbanjadores novos-ricos, provavelmente não seria tão necessário assim fazer campanhas contra o desperdício e a favor de um "consumo consciente". Embora, tendo-se em vista que um dos principais interesses atuais de toda a nossa sociedade *é* exatamente o consumo, essa é uma ideia que, bem, vai sendo descartada a curto prazo.
Mas, enquanto não vemos essas ideias sendo postas em prática, que tal comprar um iPhone revestido em ouro - apenas 2,200 libras ou R$ 6500 ou um MacBook Pro banhado a ouro - apenas R$ 51000? :)
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