Imaginem a cena: um professor chega na sala de aula e é recebido a paus e pedras verbais pelos seus alunos. porque o professor pau no cu só sabe fuder com os alunos. Quem o emprega também o trata como um verdadeiro peão, pagando salários ridículos se comparado ao que muitas outras figuras menos importantes recebem.
Assim sendo, ele não consegue atingir seu objetivo e - portanto - é alvo do velho discurso o problema do ensino é o professor. Evidente que, em vários casos, há profissionais incompetentes, mas muitas vezes o charlatanismo está mais acima na hierarquia, com "diretores" que não aceitam punir maus alunos e, ainda por cima, retiram qualquer poder punitivo do professor.
Assim, me pergunto: é possível realizar um bom trabalho sob tais condições insalubres? Qual pessoa se motivaria a ser tachada daquilo que citei no primeiro parágrafo?
Constatando o óbvio muitas vezes ignorado pela grande mídia, nem mesmo o melhor ensino, a revolução educacional tão desejada irá substituir a educação básica que deveria ser fornecida pelos pais - muitas vezes omissos, com medo de impor limites para seus filhos, porque isso prejudica a formação deles e é autoritário demais.
Alguns podem alegar que falta infra-estrutura nas escolas. Correto, realmente ela é precária em vários locais; mas muitas vezes, quem foram os seus destruidores? Os próprios alunos... graças à falta de limites. Queria não acreditar que os pais de um aluno com verdadeiro prazer em quebrar vidros deixavam ele fazer suas experiências com bolinhas de papel em casa. Surge, assim, mais uma pergunta: de que adiantam investimentos que serão destruídos... por alunos que não entendem que eles, e os pais deles, pagam por aquilo?
Constato, também, que em escolas particulares a situação não é muito melhor, pois a mentalidade do você sabe com quem está falando ou a do eu pago o seu salário impera, junto com a mercantilização do ensino e o fato de muitos alunos nunca terem ouvido um não dos seus pais. E, é claro, aprove os alunos caso o pai de um deles venha com um presentinho financeiro.
Estudei em uma delas por quase 10 anos e isso é bastante claro: o dinheiro compra o diploma, e a promessa de um ensino melhor muitas vezes não se dá devido... aos alunos, cujo único interesse é a festa da sexta-feira de noite, "com a vida pronta" graças ao papai. Não existe falta de estudo, o que existe - para eles - é professor chato, professor exigente demais.
Soma-se a isso o fato de muitos alunos simplesmente não terem interesse em pensar. Para eles, o professor perfeito - quando não falta à aula - é aquele que enche o quadro de matéria para ser decorada, que não exige um pensamento dolorido. Excelente para uma geração cada vez mais fútil, perfeito para adolescentes vazios, consumistas, cujo único interesse é um celular novo ou o funk do momento. Uma massa facilmente manipulável pela mídia, incapaz de ver as pessoas e os fatos além da aparência. Pensar é chato, para quê, se temos uma overdose de informações e ideias prontas à disposição?
Professor, especialmente no ensino superior, não é pai de aluno para ensiná-lo a ouvir e a respeitar a opinião dos outros. Nem juiz para mediar brigas dentro de uma turma. Ele está lá para realizar seu trabalho, e não para tapar buracos estruturais e arrumar falhas de construção.
E muito menos será ele quem irá reformar a geração ignorante, hipócrita, alienada, inconsequente e analfabeta funcional que vemos, nem irá domar os monstros que foram criados por pais que não querem restringir o crescimento dos filhos e deixam que eles aprendam tudo da pior forma: na rua, com os amigos (que, muitas vezes, os pais ignoram e fazem questão de não conhecer, afinal tem que deixar livre), novamente sem limites, fazendo o que bem entendem (até que a conta chega de uma forma violenta, quando já é tarde demais...).
Não considero mais possível uma mudança no sistema educacional que não comece em casa, ensinando coisas tão simples quanto o respeito às múltiplas opiniões e a capacidade de questionar e criticar (o que é diferente de mandar tomar no cu). Não há ensino escolar sem educação vinda de casa. Algo óbvio, mas que muitos pais convenientemente ignoram - para evitar terem que repensar e mudar seus hábitos. E que não passa na mídia, mais preocupada em crucificar e obter audiência do que em analisar e entender.
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