quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Não foi um suicídio

Recentemente vimos o assassinato cruel de um jovem, com claras indicações de ter motivação homofóbica: além de ter ocorrido nas proximidades de uma festa gay, não consigo imaginar que um ladrão de galinhas seria tão brutal com a vítima.

Em qualquer outro país minimamente desenvolvido - o que não significa apenas desenvolvimento econômico, ao contrário do que certo governo quer - casos como esse não seriam registrados como suicídio: seriam registrados como assassinato, com possível caso de homofobia.

No fundo, isso não é diferente de qualquer estratégia empregada em ditaduras: fazer tudo virar suicídio para que não pareça ser um problema. Foi assim no Brasil dos anos 70, nas ditaduras na Europa, no nazismo, na União Soviética etc... e passava batido.

Como sempre, o governo (inclusive a Presidenta) não se posicionam: não tomam medidas e - como precisam do apoio da bancada evangélica para execução do seu plano de poder - aceitam que teocratas, convenientemente e deliberadamente ignorando o amar ao próximo e o não julgar que estão nos livros sagrados de suas religiões, interfiram nas leis anti-preconceito (como o PLC 122 que foi sumariamente enterrado).

Teocratas esses que não querem educação para a diversidade e a tolerância - o que é fundamental numa sociedade tão falida que precisa ser obrigada a respeitar os outros sob pena de punição, que precisa de leis e de ameaça de prisão para tudo - e, embora nunca tendo apresentado projetos para tentar melhorar o país, querem aumentar cada vez mais seus privilégios: isenção fiscal disso e daquilo. Direito ao ódio. Impunidade. E conseguem, pois são uma bancada extremamente organizada... mas apenas quando é para para saciar suas próprias necessidades.

Pregam o ódio abertamente em seus templos e nos seus programas bombásticos de televangelismo. Mentem para as pessoas, ignorando completamente os dez mandamentos, a Bíblia e a 'palavra de Deus' da qual se dizem profetas. Na desgraça do outro, veem a oportunidade de manipular e de mentir [2] para arrecadar dízimos cada vez maiores. O que Deus pensaria da ganância e da mentira destes?

E o povo, também, não vai reclamar justiça, afinal para muita gente os gays não são os cidadãos de bem, eles são um mau exemplo para a sociedade, eles querem corromper as crianças. Eles são a culpa de toda a desgraça da sociedade.

Para essas pessoas - inclusive, como já testemunhei, gente com nível superior (ou seja, não se pode falar que essas pessoas não tiveram acesso à educação [1]) - ser gay é uma opção (eu sinceramente gostaria que me mostrassem quando eu escolhi ser ou não gay ou hétero, não lembro de ter aparecido um menu ou um formulário na minha frente) ou uma frescura (por que na minha época, meu pai ia sentar a porrada em mim se eu fosse viado). Para elas, já existe muita propaganda gay (se é para usar esse termo idiota: que estranho, o que eu mais vejo é propaganda hétero, e nem por isso alguém deixa de ser gay).

Quantas mortes por machismo e homofobia, quantas mortes por preconceito, quantos discursos de ódio serão necessários para que algo seja feito? Pelo andar da carruagem, um número infinito, pois fazer algo afeta os planos do governo de não ter nenhuma dissidência, requer que seja violada a tal da governabilidade, e obriga ele a fazer algo.

É difícil fazer um homem compreender algo quando seu salário depende, acima de tudo, que não o compreenda. -- Upton Sinclair

[1] Costumo afirmar que educação significa, muitas vezes, apenas conhecimento: nada diz sobre caráter e honestidade. Muita gente tachada de burra é mais honesta e sincera do que  pessoas inteligentes que conseguem achar escapatórias e justificativas para tudo, que jogam com palavras para enganar as pessoas e que conhecem todas as artimanhas para não serem pegos. Mas divago.

[2] O pessimista vê em cada oportunidade uma dificuldade; o otimista vê em cada dificuldade uma oportunidade.