sábado, 18 de dezembro de 2010

Blá-blá-blá audiófilo

Outro dia, quando estava em uma banca, peguei uma revista destinada aos audiófilos e cinéfilos. Reviews de amplificadores, caixas de som, tocadores de Blu-Ray, TVs de grandes dimensões (até aí tudo bem)... e cabos USB sofisticadíssimos. Cabos USB! Especialmente esse aqui (não lembro se era esse o modelo, mas ilustra o que eu quero explicar). Maravilhem-se: US$ 2849 por 3 pés (isto dá US$ 3100/m, módicos R$ 5296). Uma pechincha!

Sinais digitais são digitais, o Cap. Óbvio mandou dizer. Muitos deles contêm algoritmos de correção de erros (p. ex. as mídias ópticas têm um código que permite que um CD levemente arranhado não dê problemas [1]), ou seja, dificilmente você vai perceber um 'bit perdido'. E um HD externo, ou uma câmera digital profissional, têm uma velocidade de transmissão e uma largura de banda muito maiores que um sinal de áudio: não seria sensato, então, que os fabricantes de tais dispositivos usassem cabos mais sofisticados? Não é o que vemos, entretanto: esses dispositivos têm um cabo comum, "made in China" (como se os cabos audiófilos fossem fabricados com cobre minerado por duendes alemães).

Mas o pior são os cabos de força "audiófilos", que não introduzem coloridos no som (teria isso algo a ver com Restart e afins? - na verdade, 'coloridos' é um termo técnico utilizado para as alterações que o processamento do sinal implica sobre o áudio). Falam de efeito skin, transcondutância, 'amaciamento de componentes' etc..., abusando do eletromagnetismo e da engenharia (pergunto quantos audiófilos são engenheiros eletricistas/eletrônicos). O 'amaciamento de componentes' supostamente encontra embasamento no 'burn-in' empregado na engenharia de confiabilidade, que consiste em testar componentes em condições não-ideais, de forma a selecionar aqueles obviamente ruins (protip: isso não inclui a sua casa, com seu cachorro mordendo os cabos)

E novamente, aplica-se a lógica que já citei anteriormente: se o cabo importa tanto assim, computadores, monitores, TVs, equipamento de teste etc... viriam com cabos de força com as características que eu descrevi. Aliás, tem gente que diz que cabos audiófilos melhoram a qualidade do vídeo. Eu esperaria, então, que um monitor high-end viesse com esses cabos - o que não é o visto por aí. Talvez ficasse a sugestão para a Apple?

Também há a classe dos "powerlines", "filtros de sinal" etc.... como este. Algumas coisas que o dispositivo promete até têm um certo fundamento eletrônico (por exemplo, a correção do fator de potência, a partida suave) mas não são relevantes para áudio: equipamentos de boa qualidade são projetados justamente para tolerarem esses 'pequenos picos' de energia, e o usuário doméstico não tem muito a ganhar com a correção do fator de potência.

Mas o EXTREMO foi um desmagnetizador de CD. Acho que qualquer pessoa que tenha nascido nos últimos 30 anos (o CD foi lançado comercialmente em 1982, e já está no mercado brasileiro há uns 15 anos) sabe que CDs/DVDs/Blu-Rays são mídias ópticas, logo não sofrendo magnetização. Algo digno de um facepalm.

Um estudo objetivo para provar a não-diferença entre tais cabos envolveria o uso de osciloscópios, analisadores de espectro etc... e provavelmente os órgãos de fomento à pesquisa não têm dinheiro para gastar com pseudociência.

Uma boa instalação elétrica, uma alimentação sem oscilações, cabos que não tenham quilômetros de comprimento, evitar as fontes óbvias de interferência - por exemplo, máquinas elétricas, etc... são importantes para a vida útil do equipamento, e obviamente a experiência do usuário pode ser prejudicada por um cabo danificado ou epicamente ruim, ou por um ambiente com uma acústica inadequada ou fones comprados em camelô. Mas não justificam gastar centenas de reais em cabos "audiófilos", nem em dispositivos que supostamente melhoram a qualidade do áudio.

Por falar em instalação elétrica, vi em outra revista voltada ao público audiot... er, audiófilo, uma pessoa que argumentava que nunca se deveriam desligar os amplificadores e outros equipamentos, pois a energia elétrica era o oxigênio do equipamento (de certa forma faz sentido) e desligá-la era deixar o equipamento sem ar. É aquele típico momento que só pode ser representado por um facepalm.

Não vou entrar, também, no mérito dos amplificadores valvulados vs. os amplificadores transistorizados: isso é assunto para um outro post. Os amplificadores valvulados continuam sendo preferência entre guitarristas e outros músicos, devido ao som sujo causado pelas válvulas saturadas (corrijam-me se eu estiver errado). 

E se algum audiófilo quiser me refutar, será bem-vindo, desde que empregue métodos científicos (e não observações subjetivas incentivadas pela necessidade de não se arrepender dos R$ 5 mil gastos em cabos) para determinar que, sim, um cabo USB de R$ 5 mil é melhor que um cabo de R$ 15. Estou armado com osciloscópio e gerador de funções. Alguém encara?

[1] Tive, uma vez, um CD de música que simplesmente se recusava a tocar em qualquer computador, só tocava em aparelhos de som. Não era nenhum método "anti-pirataria", pois o CD era anterior à crise de paranoia das gravadoras. Mistérios que nunca resolverei.

Referências:

http://www.theaudiocritic.com/back_issues/The_Audio_Critic_26_r.pdf
http://dvice.com/archives/2008/09/1800-power-cord.php
http://www.lessloss.com/
http://www.htforum.com/vb/showthread.php/74141-Cabo-audi%C3%B3filo-na-tv!
http://www.ferraritechnologies.com.br/versao/pt/transparent/linha_de_forca.asp

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

openSUSE 11.3 em um Acer Aspire 5532 - experiência

Obs. As distros atuais reconhecem tudo perfeitamente e o 'fglrx' não mais é necessário a menos que você jogue no Linux.

Obs. Current distros recognize everything perfectly and 'fglrx' is not anymore needed unless you're going to play games on Linux.

Precisei instalar um Linux num Acer Aspire 5532 (Athlon 64 TK-42, 3GB RAM, 320GB de HD, vídeo ATI HD3200), e escolhi o openSUSE 11.3, principalmente pelo YaST e por ele ser baseado em RPM. Prefiro o Arch, mas não estou com tempo livre para instalar o Arch em outra máquina e configurá-lo.

Instalação OK: fiz dual-boot com o Windows 7 Home Basic 64-bits que veio pré-instalado na máquina. O sistema funcionou perfeitamente. Todo o hardware foi detectado e funcionou out-of-the-box. Exceto o vídeo 3D, que com o driver 'radeon' apresentou alguns glitches. 

Preferi instalar o driver da ATI (fglrx) para conseguir um melhor desempenho de vídeo e ter gerenciamento de energia, mas infelizmente ele quebra hibernação, suspend to RAM e até mesmo a troca do X para o console (EDIT: para resolver tais problemas é necessário colocar 'vga=0' na linha de comando do kernel, desativando o KMS "intruso" do driver radeon). É uma pena, mas isso é compensado pelo fato desempenho do vídeo ser EXCELENTE para um notebook de baixo custo - R$ 1400, ownando o meu Acer 7720 de R$ 2500.

Instalei os diversos programas que preciso para o meu trabalho (GIMP, Inkscape, LaTeX, alguns programas no Wine, VirtualBox, ferramentas de desenvolvimento etc...) e outros que uso no dia-a-dia (emesene, Skype, Dropbox, jogos e emuladores, etc...), e todos funcionaram muito bem. O sistema tem uma inicialização em um tempo razoável - 40 segundos do GRUB ao desktop.

Problemas (o único que eu encontrei):

- Gravação de áudio tem problemas: ela interrompe após alguns segundos e tem delays chatos. Não sei se são relativos ao PulseAudio ou ao hardware, embora ele use o mesmo módulo (snd_hda_intel) que o meu Acer 7720 - no qual a gravação funciona perfeitamente.

Conclusão:

Como todos os Acer que eu conheço, é uma máquina onde o Linux funciona muito bem, sem precisar catar drivers, e se o usuário não for usar 3D pesadamente, não precisa instalar drivers binários. Para um Athlon 64 X2, um processador não tão potente (comparável a um Pentium dual-core), o desempenho é excelente - sem dúvida melhor do que aquele obtido no Windows 7 que veio com a máquina, o qual veio inchado com as porcarias da Acer (uma tonelada de jogos demo, programas de utilidade questionável, etc...).

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Em defesa do papel e da caneta

Vejo muita gente querendo matar o papel, alegando que ele é insustentável, não é prático, etc.... Não vou entrar no aspecto ambiental ou econômico, mas analisar os principais pontos (na minha opinião) pelos quais o papel ainda é mais eficiente que muitas tecnologias.

Primeiro: Usar notebook em sala de aula? Coisa de filme. Infelizmente não é praticável em muitas situações, por diversos motivos.

Talvez a situação seja diferente em faculdades particulares ou em cursos mais de TI/computação, mas no curso que faço e na universidade onde estudo, isso é algo raro - usei notebook em algumas poucas cadeiras. E na maioria das vezes, o uso deles era o mais banal possível: acompanhar os slides que o professor passava sem precisar forçar meus olhos, pois muitas vezes acho mais confortável sentar no fundo da sala.

Começa pela falta de tomadas: cada sala tem uma meia-dúzia delas, distribuídas nas paredes. Ou seja, se tiver mais que 6 ou 7 notebooks na sala, é aquela gororoba de fios pela sala (piadinha tem fio demais aí em 10... 9... 8...). Esse é o problema mais fácil de resolver: basta colocar um número razoável de tomadas de chão (uma excelente ideia, que infelizmente vê-se pouco por aí).

Passa pela falta de redes sem fio: seria necessário um roteador em cada sala, devido à espessura das paredes. Não bastasse isso, seria também importante uma ferramenta de filtragem de conteúdo (para evitar que o aluno ficasse a aula inteira baixando tranqueiras e atolando a conexão de todos). Também não é algo difícil para um CPD/datacenter implementar usando-se um proxy, firewall, etc....  [1]

Por fim, em uma universidade federal, pública e gratuita, nenhum professor pode obrigar os alunos a terem um notebook/tablet. Pode-se recomendar (até porque boa parte dos alunos tem, e os notebooks mais low-end - muitas vezes suficientes para o uso em sala de aula - já são bastante acessíveis), mas não se pode colocá-los como obrigatórios, o que seria necessário para, por exemplo, realização de provas com consulta ao "material eletrônico".

Segundo: Para quem tem dificuldade de se concentrar, ou para quem não tem paciência para estudar, estudar com papel e caneta ainda é a melhor opção. Não existe a tentação de ah, vou ver se alguém mandou um e-mail, ah, vou ver se as notas de tal saíram, etc... O papel simplesmente está lá, ele não faz multitarefa, ele não tem eye-candy, nada.

Soma-se a isso o fato que a universidade precisaria dar acesso a uma coleção de e-books para os alunos. Aliás, isso seria algo interessante, poderia inclusive ser algo no mesmo modelo do Portal de Periódicos. Mas, atualmente? O aluno que precisa de um e-book muitas vezes precisa se contentar com um PDF de baixa qualidade, com as páginas escaneadas como imagens (ou seja, nada de copiar e colar uma fórmula).

Terceiro: para anotações free form, papel continua imbatível. Não conheço nenhuma ferramenta (para Linux) que me dê esse tipo de anotação ao mesmo tempo que me permite incorporar gráficos, diagramas, equações etc....

O basKet quase chega perto do que eu quero. QUASE, pois ele não tem um bom suporte a equações. De preferência algo do estilo do LaTeX: é muito mais ágil um $I = C \frac{dv}{dt}$ (uma jujuba pra quem entender a equação) do que clicar em menus e arrastar e soltar objetos.

Quarto: o professor, se ele quiser que os alunos usem mídias eletrônicas nas salas de aula, precisa se reinventar. As velhas lâminas não servem mais; tampouco serve encher o quadro. E como vai ficar aquele professor de Matemática/Física do século passado que odeia calculadoras tipo as HP, porque permitem que os alunos colem?

E, por fim: mesmo que essas condições sejam atendidas, o modelo eu tenho a informação ao alcance dos meus dedos não condiz com a avaliação por provas. Óbvio que, em algumas cadeiras (como as teóricas), substituir as provas é impossível. Mas nas cadeiras mais avançadas do curso, considero perfeitamente possível a realização de trabalhos - que obriguem o aluno a não apenas pesquisar, mas sim entender o que leram e expressar com suas próprias palavras - em substituição a provas de decoreba e de despejo de conhecimento.

Fora da sala de aula, o problema continua: eu não tenho coragem de usar um notebook, ou mesmo um tablet, dentro de um ônibus. E isso que eu moro em uma cidade relativamente pacífica (não me recordo do último assalto à ônibus aqui); até mesmo carregar um notebook em uma cidade maior pode transformar a pessoa em uma vítima de bandidos (que provavelmente irão roubar o notebook não pensando nos dados da pessoa, mas sim em trocar por uma pedra de crack - mas isso não é o tópico deste post).

Quanto aos e-books? Começa passando pelo problema dos direitos autorais. Daqui a 20, 25 anos, nossos filhos não poderão ler os e-books que nós líamos em 2010, porque a licença venceu. E se você quer quebrar o DRM? Boa sorte, ladrão de propriedade intelectual. Enquanto aqueles que continuam com o livro em papel, poderão ter retrocompatibilidade pelos próximos infinitos anos.

Depois: o e-book não se presta a anotações. Quando eu leio/estudo, gosto de ir puxando setinhas, anotando ideias nas margens da página, sublinhando, etc etc... , tudo isso que um e-book não me fornece.

Um caderno e uma caneta podem não serem cool, podem não ter uma App Store nem serem multitarefas, mas desempenham o trabalho deles muito bem. E nenhum tablet irá tão cedo substituí-los. Assim como o velho e bom livro em papel.

O papel pode não ser sustentável (buzzword do momento), pode não ser fácil de arquivar, mas é extremamente eficiente para aquilo que se propõe: não tem e nem suporta DRM, pode durar séculos se bem-conservado, não tem incompatibilidade de formatos etc.... Continua sendo o melhor amigo do estudante.

[1] E de fato, essa foi a argumentação para o CPD da universidade onde estudo não colocar mais pontos wireless: o problema dos heavy users, que ficam consumindo toda a banda. Ou foi uma desculpa para "não queremos colocar filtragem porque vai dar trabalho"?

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Por quê simplificar se podemos complicar? O caso do Portal do Software Público

Vi no BR-Linux uma notícia sobre o software Editom, editor de partituras, hospedado no Portal do Software Público. Resolvi baixar e... preciso me cadastrar. Para BAIXAR o programa, preciso deixar nome e e-mail. Na hora perdi a vontade de testá-lo.

Cadastro esse com direito a preencher um CAPTCHA que jogou combinações inadequadas de cores: um rosinha claro em um fundo branco. Ou seja, um deficiente visual, um daltônico, já estão excluídos por tabela. Onde está o discurso bonito de inclusão agora?

Somando-se a isso o fato de que, com um cadastro compulsório, torna-se bem mais difícil - talvez até impossível - escrever um script que baixe e empacote automaticamente o programa. Ou seja, significa que dificilmente o veremos nos repositórios de qualquer distro, a menos que algum desenvolvedor empacote-o manualmente.

Pergunto, agora: por quê simplificar alguma coisa se podemos complicá-la, colocando toneladas de barreiras entre o usuário e seu objetivo? Tudo isso para poder alardear a comunidade tem mais de 9000 membros, inflando estatísticas, construindo comunidades ilusórias? Infelizmente, é o que parece. É a mesma coisa que considerar alguém que ocasionalmente visita um site como visitante assíduo.

SourceForge, Google Code, GitHub e outros serviços para compartilhamento de software livre e desenvolvimento, não requerem cadastro para baixar um programa ou seu código-fonte - apenas para participar em fóruns, bug trackers, etc... (e ainda assim, podem-se acessá-los sem cadastro, apenas sendo necessário para postar) ou para enviar colaborações. Um método muito menos frustrante.

E inflar comunidades? É igual aqueles scripts siga 5 mil pessoas no Twitter, ou aqueles que ficam mendigando me add no Orkut. Adianta afirmar que uma comunidade tem um enorme número de membros se... boa parte deles só entraram ali por curiosidade, para ver se um programa atendia às necessidades deles, e depois saíram - ou não, ficaram por lá mesmo mas nunca mais voltaram?

Software livre não combina com burocracia e complexidade desnecessárias.  E não vai ser manipulando números que se irá chegar a algum lugar. Nem obrigando seus leitores a se cadastrarem.

Enquanto isso, vivam os serviços como o Mailinator, que permitem a fácil criação de e-mails descartáveis.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

É DE MAIS DE 8 MIL! (ou Expen$ive Apple is Expen$ive)

Outro dia brinquei com um iMac 27". Confesso: até achei legalzinho. Então, fui ver na nossa Apple Store quanto saía. Resultado? OVER 9000, digo, over R$ 8199. Numa configuração razoável para uma máquina midrange: i5, 8GB RAM... de forma a não precisar de upgrades aftermarket depois.

E aparentemente a Apple usa hardwares banhados a ouro e instalados por ruivas de olhos azuis, pois como justificar que um HD de 2TB custe R$ 530 A MAIS que um HD de 1TB, e que 8GB de RAM custem R$ 700 a mais que 4GB? Nem aqui no interior, onde as lojas passam a faca devido à falta de concorrência, há uma diferença tão grande.

Só colocando um HD de 2TB e 8GB de RAM, meu iMac já foi pra R$ 8 mil. Sim, eu sei, isso se deve aos impostos. Mesmo assim, desqualifica o Mac para muita gente - incluindo eu. E não duvido que, por trás do excelente preço, mesmo que tiremos os impostos, ainda haja um quê de elitização de marca - ou a Apple gostaria de ver o moleque usando um iPhone pra ouvir funk no "buzão" e assistir filme pornô on-line (ops, me esqueci, não tem Flash no iPhone, ou seja, nada de RedTube, YouPorn e afins), ou os inclusos digitais instalando o Photoshop pirata nos seus Macs para fazer montagens horríveis?

Posso, com isso, montar uma puta de uma máquina (indo uns R$ 4 mil em um caso extremo - sinceramente não imagino como eu conseguiria gastar tudo isso em um PC, visto que não me interesso por placas de vídeo fodonas nem produtos "gamer"), investir em um par de monitores gigantes (uns R$ 1500, talvez?) e ainda sobra dinheiro para comprar uma mesa sofisticadíssima, ou um notebook low-end, ou um smartphone, ou uma câmera profissional. Ou mesmo comprar um Fusca. De qualquer forma acaba sendo melhor negócio que um iMac.

"Ah, mas Mac tem o Mac OS X, e esse teu 'PC montado' não!", gritam os Macmaníacos. É, é uma pena... ou não. Não acho que o Mac OS X valha essa mega diferença. Se um dia eu tiver o desejo de instalar o Mac OS X na minha máquina, posso tecnicamente apelar para os "hackintoshes" (embora eu dificilmente vá ter paciência ou mesmo vontade de fazer isso - talvez se eu ainda tivesse 13 anos e curtisse "warez"). Mas numa máquina dessas? Prefiro rodar um Linux. Sim, o mesmo Linux "feio" que eu uso na minha máquina atual. E os winusers mais fanáticos, com seus gritinhos "mas Linux não tem jogos!", "vai montar uma puta máquina pra rodar a MERDA do Linux?", por favor, experimentem o poder da Santa Granada de Mão. Grato.

Como eu já disse aqui no blog, não sou o público-alvo da Apple, e nem estou no perfil de usuário de Mac OS X. Meu "estilo de vida digital", se é que eu o tenho, não precisa de um iLife ou de um iTunes - e, aliás, quero distância desse último. Se, porventura, eu me visse usando tal sistema (e podem saber que choverá epicamente antes disso acontecer), iria usá-lo de forma similar a que uso Linux: terminais para todos os lados, ferramentas de linha de comando, softwares livres... Talvez a app mais "Mac-only" que eu usasse seria o Office.

Ah, na mesma oportunidade brinquei com o iPad, e achei o dispositivo completamente chato para um geek Linux. Mas provavelmente tudo isso se deve a eu ter uma certa blindagem ao campo de distorção de realidade e não simpatizar com o modelo centralizador da App Store. (e já vi alguns Mac users dizendo que "quem reclama da App Store é porque é a favor da pirataria". Excelente correlação binária, digna de um facepalm).

sábado, 2 de outubro de 2010

O ouvido como penico dos políticos

Amanhã, como todos sabemos, serão realizadas as eleições para deputados, senadores, governadores e presidentes. E vários candidatos decidiram divulgar seu número através de carros de som. A qualquer hora do dia - e principalmente nas horas mais inconvenientes - podemos ouvir os jingles de campanha deles. Hoje mesmo, a rua onde moro virou uma enorme carreata, com buzinaços de todos os tipos.

Uma perguntinha que nenhum deles respondeu: eles pretendem atrair eleitores matando cachorro a grito, transformando os ouvidos dos seus eleitores em penicos e tentando ganhar votos por exaustão dos eleitores, em uma mídia na qual não é possível conhecer nada sobre as propostas deles?

Outra constante em qualquer grande cidade são as placas estrategicamente posicionadas para atrapalhar a visão dos motoristas e pedestres. Como se alguém que passa por elas a 80km/h vá ver e se admirar "nossa! preciso votar nesse candidato!". Não: no máximo vai reclamar porque a placa dificulta a visão da pista ou tranca o caminho pelo qual o pedestre passava.

Por sinal, as poluições sonora e visual são as grandes pragas ignoradas de qualquer cidade maior. Fala-se tanto em despoluir, em preservar o meio-ambiente, mas se esquece que o tum-tum-tum de carros com música alta, ou paredes cheias de cartazes e propagandas, são tão desconfortáveis para uma pessoa quanto fumaça e sujeira largada no chão (ao menos nessas últimas eleições, os santinhos tem gradativamente sido abandonados - não recebi muitos esse ano).

É uma das poluições que (na minha opinião) mais incomoda, e cujo combate é tão ou mais difícil que as outras formas: de quem seria o interesse por tirar todos os cartazes de propaganda? Como impedir que o idiota dê uma voltinha com a sonzera lok do carro ligada, sem violar a liberdade de ir e vir? Quase impossível. E ainda assim, políticos teimam em aceitar essas formas de sujar como sendo válidas. 

Considero que propagandas agressivas, que irritem as pessoas, não servem para muito senão irritá-las, e também imagino que nenhum candidato queira ter seu nome associado à ideia de "sujão", barulhento, poluidor etc..., mas infelizmente, na busca incansável pelo voto, é o que boa parte deles fez, faz e fará nas próximas eleições.

E também, considero que votar nesses candidatos é homologar esta forma de propaganda como válida - e é o candidato barulhento que queremos para os próximos 4 anos? E aquele candidato que polui enquanto prega um programa ambientalista, "verde", "sustentável" (a buzzword do momento) de governo: hipocrisia ou hipocrisia?

Fiz, então, a decisão: não voto em candidato que transforma meu ouvido em penico. E em relação a um certo candidato (cujo QG é aqui perto de casa), resolvi xingar muito no Twitter (não que eu acredite nessa ferramenta como uma forma eficaz para uma comunicação mais séria, mas tudo bem). O que ele fez? Nada, não mudou nenhum hábito e nem deu satisfação. Excelente político que ele será... Me pergunto se, depois de eleito, ele irá falar gritando durante todo o seu mandato.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Blá-blá-blá quântico

Há um tempo atrás, vi em uma revista uma propaganda de palestras com um suposto guru das curas quânticas, que visa unir ciência e espiritualidade (tenho a imagem escaneada aqui mas não colocarei no blog, justamente para evitar o risco de violar um copyright ou receber um advogado irritado na minha casa). Me surpreendi que essas "ciências" ainda vivem.

Mas tudo bem... comecemos analisando justamente pelo objetivo citado na primeira frase:

Para a física quântica (FQ), essa associação é de existência duvidosa. As duas não convergem (ao menos no que toca a Física). Não será um suposto espírito superior que afetará resultados experimentais e deduções físico-matemáticas. Nem "pensamentos positivos"  (imagine o poderio disso na hora de acochambrar, digo, produzir melhores resultados experimentais) irão mudar resultados; se isso ocorrer, há algo muito errado pois o determinismo foi violado.

Outros pontos questionáveis:

- "Curas quânticas" existem? Me mostrem um artigo publicado em periódico de respeito (Science, Nature, Americal Journal of Physics - já que adoram mencionar conceitos da física quântica, etc...). Enquanto não vir tais provas, continuo considerando tais "curas" como pseudociência pura, como "technobabble".

De outro site: "A Cura Quântica usa a energia para alterar a matéria e conseguir resultados visíveis na matéria." Como?

De outro site também temos uma suposta comparação do pensamento negativo com energias negativas, que provocaria deslocamento de elétrons de suas órbitas. Um conjunto de termos rebuscados para dizer a mesma coisa que boa parte dos livros de auto-ajuda diz: pensamento positivo

"Pensamentos positivos harmonizam a estrutura dinâmica dos átomos com a recondução dos elétrons às suas respectivas órbitas, produzindo a harmonização do sistema energético das celular e a conseqüente recondução do seu estado normal. "

Bonito (e sem significado nenhum), não? 

Em outro site vemos:

"Are there any blocks, obstacles, barriers or interferences to the process of healing? (If so, we remove them).
What are the causes that created the problematic situation and how to eradicate them? (Then we proceed to carry out the Body's requirement)
Are there any weakened organs or compromised biological systems that need support? (If yes, then we give the support from several angles)"

Em tradução livre:

"Existe algum empecilho, obstáculo, barreira ou interferência ao processo de cura?
Quais são as causas que criam o problema e como eliminá-las?
Há algum órgão enfraquecido ou sistema biológico comprometido que precisa de suporte?"

Não é muito mais do que se faria para resolver um problema de saúde qualquer: identificar a doença (e o que impede sua cura) a partir dos sintomas e tratá-la erradicando a causa.

- A lei da atração (nada a ver com as leis de Newton na gravitação universal) afirma que basta pensar pra influenciar as chances de um evento aleatório. E realmente, queria que ela fosse verdade: dinheiro é atraído por mim?  OBA! Pensarei nele vinte e quatro horas por dia! Posso perder peso com essa lei? Tô dentro. Posso ter todas as mulheres que eu quero? Também tô dentro.

É uma pena que ela não funcione tão bem quanto na teoria. Duvida? Faça um experimento: não coma. Fique o dia todo pensando "não estou com fome", "estou comendo o que eu gosto", etc.... Se você morrer, espere até os outros atribuírem isso a uma falta de pensamento positivo ou excesso de energias negativas.

E se eu não receber o que eu mentalizei, uma suposta "força superior" me negar (similar ao pensamento fundamentalista " não te escolheu, logo você vai para o inferno"? Onde peço indenização desta meritocracia deformada?

Aposto um tostão que muitos dos seguidores dessas "ideologias" nunca pegaram um livro de Física em nível acadêmico (Halliday, Tipler etc...),  com medo de verem seu Wishful Thinking quebrado (e lá se foi minha decisão de nunca mais abrir o Halliday).


- Um exemplo extremo que chegou até aqui: Centro de Tecnologia Quântica. Assessoria energética (parece uma consultoria em sistemas elétricos), comandos quânticos (funcionam no Linux?) e até tratamentos quânticos em CD! Não é o máximo? Acabo de decidir que meu mestrado e doutorado serão em Tecnologia de Energia Quântica.

Não pretendo entrar em detalhes físicos (até porque, só cursei Física I e II que são obrigatórias, e em nenhuma das duas tirei mais que 6,00), mas cansei de ouvir o "blá-blá-blá quântico", uma auto-ajuda disfarçada de avanço científico, que atribui poderes duvidosos a partículas e átomos. A FQ não precisa do disserviço prestado por charlatães disfarçados de físicos.

O "quântico" como buzzword, é similar ao que "computadorizado", "digital" era há 25, 30 anos atrás. A física é usada nesta situação da mesma forma que a astronomia é usada por astrólogos: para pintar uma fachada de seriedade no que seria - usando um termo popular mesmo - uma picaretagem.

E em relação a revista, cancelei sua assinatura, devido ao desvio de foco que ela sofreu de um tempo para cá. Mas em uma revista cujo foco originalmente era o meio-ambiente, um tema com um sem-número de conteúdos a serem tratados, por quê dar tanto lugar para besteiras sem fundamento nenhum?

Contagem regressiva para os ataques pessoais em 5... 4... 3... 2... 1...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Os idiotas do dinheiro (ou "da importância da educação financeira")

Começamos com uma definição que eu vi em uma palestra sobre Planejamento Profissional no semestre passado: "a pessoa rica é aquela que tem condições de manter seu estilo de vida mesmo que perca a fonte de renda". Uma definição bem interessante, que diverge radicalmente daquela imposta pelos meios de comunicação e propaganda, a qual é baseada no consumo e na ostentação.

De cara, já vemos que os playboys, patricinhas, novos-ricos e outros estilos de vida fúteis, baseados no consumismo, não funcionam e seus "detentores" (se é que assim os podemos chamar) - por essa definição - não podem ser chamados de ricos, embora façam questão de esfregar isso na cara de todo seu círculo de (pseudo-)amigos. A partir daqui, já posso traçar várias linhas divisórias entre os ricos e os novos-ricos.

Os ricos construíram suas economias com esforço. Trabalharam, estudaram, começaram em atividades simples como bancários, vendedores etc... e muitos deles (excetuando aqueles que conseguiram ganhar fortunas por sorte ou por herança) se privaram de diversas coisas enquanto mais simples (e ainda se privam, ao contrário do estereótipo da mídia) para conseguir ter um padrão de vida considerado alto.

Os novos-ricos são o que o próprio nome já diz: receberam (ou economizaram) uma boa quantidade de dinheiro, e agora, de posse dela, torram boa parte delas em símbolos de status que eles não precisam, em palhaçadas espalhafatosas, com o bom-senso para escolhas inibido devido à sua euforia, preferindo comprar tudo do mais caro mesmo que não combine com a personalidade deles, afinal eles podem. Eletrônicos de marcas famosas (ainda que levem o mesmo Made in China e os mesmos componentes de outras marcas mais baratas, tendo como único diferencial um logotipo), carros sofisticados e imponentes (por exemplo, um SUV para andar na cidade, mesmo esses carros tendo seu consumo em litros por quilômetro), roupas e tranqueiras de luxo (que tal um casaco de pele em um país tropical?) etc.... Tudo aquilo que eles precisam para gozar seu papel no suposto high-end do qual se consideram parte.

Ricos "clássicos", aqueles que construíram um sucesso, normalmente têm alguma história de vida ou conteúdo para contar. Têm educação (tanto no sentido acadêmico quanto no sentido de comportamento) e discrição, muitas vezes servindo como role models (não sei a melhor palavra em português) para alguns. Neste ponto, são facilmente distinguidos dos novos-ricos, cujos poucos assuntos giram entre compras, celebridades etc... e que, no máximo, servem como anti-modelos.

Também é um hábito dos novos-ricos usar argumentos tão robustos e civilizados quanto vai trabalhar, vagabundo, deixa de ser Zé-ninguém. De onde se constata que, embora a inteligência e o conhecimento possam ser ferramentas para construção do verdadeiro rico (no sentido financeiro e material, não no intelectual e espiritual), o oposto não é verdadeiro. Eles não vão hesitar em encontrar métodos elaborados para humilhar pessoas julgadas "inferiores" e aplicar toda sua arrog...sofisticação nelas. Mesmo que um dia o novo-rico tenha sido pobre, quem se importa? Ele tem o direito de destratar a todos. E se alguém se ofender, não há nada que um dinheirinho não resolva.

Mas em situação mais crítica que as pessoas acima citadas, encontram-se os wannabes. São similares aos novos-ricos, com o agravante de não serem ricos e, para se manterem no high-end, de forma a chamar a atenção e mostrar que supostamente podem, afogam-se em empréstimos, financiamentos, cartões de crédito entre outros, formando uma recursão cujo limite é o infinito negativo, fazem malabarismos com múltiplos empregos para conseguir satisfazer os devedores etc...

Ou mesmo preferem apelar para o velho se você não é, pareça. Compram falsificações que parecem as originais e se dão por satisfeitos. Montam home theaters sofisticados para assistir DVDs piratas comprados no camelô (já vi isso acontecer) e compram smartphones e computadores sofisticados para... apenas acessar o Orkut e o MSN. Vão a lugares sofisticados, consomem tudo que podem e jogam tudo no cartão de crédito... cuja fatura eles não conseguem pagar!

E, quando o estilo de vida cai - por motivos diversos, seja por estar no N-ésimo empréstimo para pagar o N'-ésimo cartão de crédito, seja porque simplesmente o dinheiro do papai acabou ou a fonte foi cortada - tudo torna-se trevas. E os amigo$ que eles alien...fizeram na alta sociedade, todos desaparecem.

Seus filhos também vivem no mesmo estilo. Não aprendem a ouvir não dos pais, sempre têm todos seus desejos satisfeitos e, no lugar da atenção dos pais (muito ocupados, pois estão envolvidos na alta sociedade), recebem todos os presentes que querem - por mais desnecessários que sejam, tornando-se perfeitas crianças consumistas, idiotas, incapazes de reconhecer o valor do dinheiro e do trabalho, e que aprendem desde cedo a chantagear seu caminho e a não se misturar com a gentalha inferior, pobre. Tais pais, tal filho. E assim sucessivamente, a menos que o ciclo seja quebrado por motivos diversos.

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A propósito, alguém se lembra da bolha da Internet nos anos de 2000/2001? Vários jovens empreendedores ficaram ricos, investindo em luxo para suas empresas high-tech, para simplesmente ... verem suas empresas (que nunca deram lucros efetivos, se baseando apenas em investimentos) serem engolidas da noite para o dia. Um dos exemplos mais clássicos de novo-rico que eu lembro, e uma lição de conservadorismo (no aspecto gastos) para muitos dos empresários atuais.

Nenhuma das pessoas que eu considero ricas, ou com um bom padrão de vida, chegou a essa situação se comportando como novo-rico. Todas elas chegaram lá daquele velho jeito chato, burocrático e totalmente não divertido: economizando dinheiro, tabelando seus gastos e calculando o quanto podem gastar - e desse valor gastando apenas uma pequena porção e fazendo com que o resto trabalhe para eles através de investimentos e negócios, para que não precisem depois entrar nas diversas armadilhas do crédito fácil.

E também penso que, se houvesse uma educação financeira, na construção de uma cultura que inibisse os esbanjadores novos-ricos, provavelmente não seria tão necessário assim fazer campanhas contra o desperdício e a favor de um "consumo consciente". Embora, tendo-se em vista que um dos principais interesses atuais de toda a nossa sociedade *é* exatamente o consumo, essa é uma ideia que, bem, vai sendo descartada a curto prazo.

Mas, enquanto não vemos essas ideias sendo postas em prática, que tal comprar um iPhone revestido em ouro - apenas 2,200 libras ou R$ 6500 ou um MacBook Pro banhado a ouro - apenas R$ 51000? :)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Mau-professor HOWTO

Algumas conclusões que eu cheguei em 2 semestres e mais um pouco na faculdade, após todos os tipos de maus e ruins professores que eu tive:

  • Use recursos multimídia nas suas aulas, mesmo não os sabendo usar. PowerPoint é uma excelente mídia para passar 50 slides enquanto lê integralmente o texto deles.

    Hora dessas ainda quero encaminhar, anonimamente, este artigo do Efetividade.net para alguns deles.

    Pior ainda: use lâminas. Sim, aquele velho e bom material usado na máquina do sono, digo, projetor. E se limite, também, a ler aquilo que nelas está escrito. Nem mais, nem menos.

  • Não mude as aulas; repita o mesmo material e o mesmo assunto todo semestre. Os únicos que saem beneficiados com isso são os alunos que já reprovaram na disciplina.

  • Atole seus alunos com listas de exercícios e trabalhos para serem entregues em um infinitesimal de tempo. Quem se importa com aqueles que precisam trabalhar, que realizam projetos de pesquisa etc...? Todo mundo adora uma boa lista de 100 exercícios para ser entregue em 5 dias, regada a muito café e Coca-Cola. Dormir é para os fracos.

  • Seja sarcástico com os alunos. Mesmo que isso te leve para o lado da má-educação, de fazer um aluno se sentir ofendido com a brincadeirinha sem graça que você fez. Mesmo que você não tenha absolutamente nenhum talento para a ironia, finja que você é um mestre do humor. Invente novas maneiras de chamar seus alunos de burros indiretamente.

  • Dê provas absurdamente difíceis para serem feitas em um intervalo de tempo minúsculo. Não seja exigente; seja pedante, a ponto de considerar uma questão inteira errada por causa de uma vírgula incorretamente colocada ou uma palavra inadequada em uma questão dissertativa.

    Quem precisa de criatividade quando podemos ter alunos robóticos, que decoram exercícios e capítulos inteiros de livros de forma a contentar o pedantismo insaciável do professor?

  • Dê aulas sobre um assunto que você não domina e não gosta. Ou melhor, dê "aulas". Peça para seus alunos lerem a apostila, aplique um trabalho que você não corrigirá (pois não entende sobre o assunto) e uma prova copiada de outro professor.

  • Não prepare aulas. Apenas siga o que o livro que você adotou diz, e não saiba responder perguntas. Fique apenas em um eterno loop de "eu acho que é isso / não, não é / agora está certo / não, não está".

  • Não saiba o que é entonação de voz. Passe a aula toda no mesmo tom monótono e sonolento.

  • Prejudique a turma toda por causa de um aluno do qual você não gosta. Todos os outros ficarão extremamente agradecidos.

  • Humilhe os alunos que têm dificuldades com a disciplina, faça comentários mal-educados sobre eles para que toda a sala possa ouvir. Seja arrogante com eles, afinal você é o chefe da turma e ela é submissa às notas que você dá no fim do semestre.

  • Seja incompreensível. Fale rápido, rabisque freneticamente no quadro, tudo aquilo que mostra a falta de organização do seu raciocínio (e a falta da preparação de uma aula).

Se você seguir esses passos, todos os alunos ficarão satisfeitos no final do semestre. Isto é, aqueles que não desistiram da cadeira ou que não reprovaram.

E, infelizmente, nossas universidades (e as de todo o mundo) estão cheias de professores assim. Não espero um professor perfeito, justamente devido aos diversos tipos de aprendizagem existentes e ao fato de não ser possível agradar todos os alunos. Mas gostaria muito de ver professores que lembrassem que, um dia, eles foram alunos e não copiem as características daqueles professores que eles odiavam. E que, principalmente, saibam se posicionar como se eles estivessem sentados naquelas classes, assistindo a aula que eles dão.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O meu "jeito Arch"

Em Maio desse ano, completarei 3 anos como usuário Arch Linux. Embora nesse meio tempo eu tenha tentado utilizar outras distribuições Linux, invariavelmente voltei ao Arch (e talvez só o trocaria pelo Gentoo). Por quê?

1. Simplicidade e transparência

O sistema todo é estruturado de forma bastante transparente, com a configuração centralizada em alguns arquivos no /etc. Interfaces gráficas para a configuração (shaman, Arch Assistant etc...) estão disponíveis aos interessados, mas não são obrigatórias para o uso do sistema.

Os arquivos de configuração são altamente comentados e usam uma sintaxe bastante clara (nada de XML para cá e para lá, como vemos em algumas outras distros). É o complexity without complication, conceito também definido na Arch Way.

Contrastar com algumas distros quais TUDO é realizado a partir de um painel de controle central (o que, por si só, contraria a Arch Way), e os arquivos de configuração muitas vezes são tão obscuros a ponto de fazer a pessoa que está configurando desistir.

2. Modelo de empacotamento

Pacotes podem ser gerados facilmente a partir de um arquivo PKGBUILD. Posteriormente, eles podem ser enviados para o AUR, repositório mantidos pela comunidade e que é alimentado por uma seleção baseada no feedback e nas demandas da comunidade: pacotes bastante votados entram para o [community], já aqueles que atendem um nicho (jogos, plug-ins para o GIMP, bibliotecas para a linguagem Haskell, drivers para hardwares exóticos etc...) continuam disponíveis aos interessados.

Recompilar um pacote com opções personalizadas (por exemplo, adicionando um patch ou mudando flags) também é prontamente feito a partir do ABS (Arch Build System).

Não existem pacotes -devel ou -doc como em outras distribuições, um pacote como o do GTK já incluirá toda a bateria de ferramentas necessárias para compilações. Evidentemente, isso é uma péssima ideia para usuários de conexões lentas ou de sistemas com pouco espaço em disco, mas eles certamente não são o público mais adequado para o Arch.

Não existe o conceito de meta-pacote (pacote que não contém arquivos, mas sim depende de outros pacotes e, portanto, os traz quando da sua instalação). Lembro de, nos Ubuntu antigos, haver um ubuntu-desktop que dependia de TUDO. Se eu quisesse remover o Evolution (que eu não usava), eu era praticamente obrigado a quebrar o sistema.

3. Comunidade

Tem uma relação sinal-ruído ótima; a Wiki do Arch também é bastante completa (embora às vezes esteja defasada). A participação dos usuários é encorajada de forma simples, o exemplo mais claro é o AUR, no qual vemos a importância da cultura do it yourself para o Arch.

Comparar com distribuições que criam todo um formalismo ao redor do processo de empacotamento ou de sugestão de patches ou melhorias.

4. Rolling Release

Não é preciso esperar sair uma versão nova da distro para ter um kernel novo ou a última versão de cada pacote. Não existe o conceito de um dist-upgrade como nas derivadas do Debian (um pacman -Syu basta), e uma mesma instalação pode durar anos.

Também, a necessidade de forçar a instalação de um pacote (sobrescrevendo arquivos já existentes) é rara (exceto, é claro, em atualizações mais radicais, como uma versão nova do KDE, ou quando uma máquina fica meses sem ser atualizada).

Evidentemente, esta característica torna o Arch inadequado para servidores de aplicações críticas ou máquinas cuja conexão com a Internet seja inexistente ou limitada (por exemplo, conexão discada).

Comparar com distros que confundem estabilidade com antiguidade. Ao menos em desktop, se a versão 2.0 de um programa está disponível oficialmente (ou seja, não compilada de GIT/SVN/CVS etc...), faz sentido empacotar uma versão anterior?

5. Desempenho

Na prática, notei que o Arch foi uma das distros mais rápidas na inicialização (inicia em menos de 20 segundos com diversos serviços ligados), e o Pacman também é um dos gerenciadores de pacotes mais rápidos. Claro que isso não é um benchmark formal, apenas baseado em observações práticas. Provavelmente isso se deve à simplicidade do seu processo de inicialização.

6. User-Centric.

O Arch é feito de geeks para geeks, de e para pessoas que têm condições e conhecimento para administrar seu próprio sistema. Como já afirmado no item 1, não há "wizards" ou interfaces gráficas para operações de sistema.

As outras distribuições que eu testei falhavam, principalmente, nos aspectos 1, 3 (não acho que seja adequado esperar uma versão nova da distro, ou ter que catar repositórios alternativos, para que eu possa ter um Firefox 3.6 ou um Wine sempre na versão mais atualizada - algo crucial para uma ferramenta em rápida evolução) e 6 (não considero que eu tenha necessidade de um next-next-finish).

Não serei eu que irei convencer alguém a usá-lo, até porque considero que, se uma pessoa precisa ser convencida ou forçada a usar ele, o Arch não é a distro mais adequada. Mas provavelmente recomendaria-o a todos aqueles que querem abandonar a condição de "end-user", um mero passageiro, para se tornarem verdadeiros pilotos dos seus sistemas Linux.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Reflexões sobre o mundo acadêmico

Comecei o 3° semestre, sou um veterano agora, e acho que cabem algumas reflexões nesse ano de aulas, estudo, provas etc... Cheguei a algumas dessas conversando com colegas meus e com os bixos.

Esse artigo está mais centrado na Engenharia, mas várias das sugestões aqui valem para outros cursos.

- Primeiramente: ESTUDAR NÃO É TUDO. Não adianta, não tem como tirar esse preconceito da cabeça de muitos. A educação formal não é tão relevante para o mercado quanto era há 30 anos atrás, quando um diploma era garantia total de um bom emprego, até porque TODOS os que se formam terão o conhecimento (ao menos é o que se espera).

Nenhum empregador vai querer ver teu histórico escolar e dizer NOSSA, tenho que contratar essa pessoa, ela tirou 10 em todas as matérias nos 3 últimos semestres!. Vai pesar muito mais aquele projeto que você fez com seus amigos, aquele que te ensinou a ir além do que o professor ensinava na aula, que te obrigou a correr atrás e aprender noções de administração, trabalho em equipe, gerenciamento de projetos etc...

-- Responsabilidade, profissionalismo, ética. Atitudes que não se aprendem em sala de aula, mas que somente são desenvolvidas quando cultivadas de forma sistemática. A começar pela universidade. O que podemos esperar de um aluno que cola em provas, inventa desculpas para faltar a compromissos, copia trabalhos, entre outros? Muito pouco.

- Querer mostrar conhecimento, ser pedante, também não levará a lugar nenhum. Tenho professores que dão aula há mais de 25 anos, e não vão ser eles a serem enganados por alguém que fala difícil para impressionar. No máximo irá trazer um monte de amizades falsas, daquelas que só se juntam para fazer trabalhos.

Da mesma forma, pessoas que resumem o seu conhecimento a recitar livros de cabeça terão sérias dificuldades em um ambiente no qual o "core dump" mental é inaceitável.

- JAMAIS se engane com o primeiro semestre: normalmente ele é bastante fácil, mesmo as disciplinas críticas (Cálculo e Física, normalmente) estão em um nível bastante acessível ao aluno interessado (eu mesmo raramente estudei Cálculo A e tirei 7,5 na média). Entretanto, nos outros semestres a dificuldade crescerá de forma exponencial.

Da mesma forma, procurar iniciação científica nos semestres iniciais é uma péssima ideia. Você não tem nenhum conhecimento específico e, em um laboratório, será um peixe fora d'água, servindo como um auxiliar de serviços gerais. Eu recomendo esperar até o 3° semestre, no qual você já saberá o que quer para seu futuro profissional e terá condições de se aprofundar em um assunto (já saberá Cálculo e Física, por exemplo), e terá de 3 a 4 anos para produzir.

(Inclusive, muitos professores, rejeitam alunos do básico para iniciação, exceto quando o aluno já tem experiência na área - por exemplo, cursos técnicos)

- NÃO SE RESTRINJA à simplesmente estudar aquilo que foi visto em sala de aula. Procure assuntos relacionados, na área em que você quer seguir. Isso dá um excelente boost para os estudos, ao menos para quem entende melhor através de exemplos e aplicações. Aprenda a usar softwares específicos da sua área (principalmente para as engenharias), leia artigos científicos (as universidades federais têm acesso ao Portal de Periódicos, seu melhor amigo nessas horas) e livros em outros idiomas (afinal, você não quer esperar anos por uma tradução para o português), entre outros.

- Qualquer curso VAI exigir sacrifícios. Inclusive a tão temida ausência de vida social. Agora, pondere o que é melhor para você (aproximadamente o que o meu professor de Física I disse): ficar eternamente na faculdade bebendo cachaça e indo em botecos ou sacrificar agora, constituir uma carreira e poder ir em lugares melhores? Isso não contradiz o primeiro item dessa lista, estudar continua não sendo tudo, mas mais cedo ou mais tarde você precisará transformar o sábado à noite em um dia útil para fazer seu TCC ou escrever um artigo.

- Reprovar em uma ou duas disciplinas invariavelmente irá acontecer para muitos, devido à carga horária. O que se deve evitar é perder o semestre reprovando em mais da metade das disciplinas, e um mau desempenho naquelas que são dependências das outras (por exemplo, o aluno que reprova em Física I não pode cursar Física II e, portanto, já vai ficando para trás)

Essas foram as conclusões que eu tirei no meu primeiro ano no ensino superior. Provavelmente, com o tempo, de cada pessoa virão outras.

O tempo que você passa na universidade pode ser os melhores 3/4/5/6 anos da sua vida, ou os piores. Para quem tratá-la simplesmente como um local de estudo, provavelmente irá achar um saco. Mas para quem transformá-la em um local de APRENDIZAGEM (nas mais diversas formas), ela provavelmente será muito mais agradável,

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

MPD (Music Player Daemon): introdução

Há mais de um ano atrás, adotei o mpd como meu player de áudio principal, quase ao mesmo tempo em que abandonei desktop environments e migrei para o Openbox. Neste artigo venho a escrever um pouco mais sobre essa ferramenta.

Vantagens:

- Leveza: o daemon consome apenas 15MB de RAM mesmo com uma playlist de 20 mil itens.
- Compatibilidade com a filosofia UNIX: pode-se interagir com o mpd usando shell scripts, programas externos ou bindings para linguagens como C, Python, Ruby, Java etc..., ou mesmo por telnet. Ele também pode ser integrado com programas como o conky.

A principal desvantagem dele, para alguns, é o fato dele não ter eye candy, nem recursos como integração com sites de download de música ou o Last.fm.

Mas, para quem procura simplesmente ouvir música e ter um player robusto e que possa ser controlado remotamente, ele é uma excelente opção.

Instalação/Configuração:

- No Arch Linux basta apenas um pacman -S mpd e depois adicionar mpd à linha DAEMONS do rc.conf.

Depois, criamos um arquivo /etc/mpd.conf com as configurações dele.
O arquivo exemplo (mpd.conf.example) é extremamente bem-comentado, mas incluo o meu mpd.conf com as opções necessárias à maioria dos usuários.


- Também precisamos de algo para interagir com o player. Recomendo instalar os 'mpc' e o ncmpcpp-git (disponível na AUR), um cliente em modo-texto (ncurses) para o mpd. Opções gráficas são o 'gmpc', o 'sonata', entre outros.

Este último também tem um arquivo de configuração que deve ser salvo em ~/.ncmpcpp/config e que, novamente, é muito bem documentado. Meu exemplo encontra-se aqui.

- Agora, iniciemos o daemon com '/etc/rc.d/mpd start'. Se tudo der certo, ele deve demorar um pouco para construir a lista de músicas.

Uso:

- Para criar uma playlist, execute o ncmpcpp, aperte [Tab] e use a barra de espaço para adicionar uma pasta. A operação desse browser é similar a de um gerenciador de arquivos.

- Depois, voltando à playlist (aperte [Tab] novamente), selecione uma música e aperte ENTER para começar a reprodução.

As teclas de atalho mais importantes são (notando que o programa é sensível a maiúsculas e minúsculas):

's' = parar
'P' = pausa
'< >' = faixa anterior/próxima
'b/f' = retroceder/avançar na música
setas esquerda e direita = diminuir e aumentar volume
'r' = modo de repetição
'z' = modo aleatório
'y' = repetir a mesma faixa
'R' = modo 'consume' (tira as faixas da playlist depois que elas
tocarem)
'Z' = embaralhar a playlist
'u' = atualizar o banco de dados (usar quando novas músicas forem
adicionadas; o mesmo pode ser feito pelo comando 'mpc update').
'/' = procurar na playlist

O programa tem um help completo, bastando apertar F1.

- Para manipular o player pela linha de comando (ou por shell scripts, atalhos de teclado etc...), usamos o 'mpc'. Não irei copiar o help dele (acessível pelo 'mpc help'), mas alguns comandos básicos são (acredito que os nomes sejam bastante óbvios):

mpc stop mpc play mpc next mpc previous mpc toggle (alternar play/pause) mpc stats (mostrar informações do DB: quantas faixas, quantos artistas, quando foi a última atualização).

- Para que o mpd envie faixas ao last.fm, podemos usar o
mpdscribble. Sua configuração, novamente, é bem simples; acredito que quem chegou até aqui não terá dificuldade em fazê-lo seguindo o exemplo.

Conclusão:

Embora o mpd talvez não atenda aos usuários que procuram toneladas de recursos em um player, ele é bastante adequado para os usuários de ambientes leves (como eu, que normalmente uso o Openbox) e que procuram um tocador leve, simples e que segue a filosofia UNIX. Além, é claro, da vantagem dele ser completamente independente do X.

Figuras:





















Modo alternativo comparado com o modo clássico (a diferença é a barra no topo; o '0 terminal 1 IRC...' abaixo não é do ncmpcpp, mas sim do screen)





























Modo colunas comparado com o modo tradicional.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Think Indifferent

Há alguns dias comecei a ver, na mídia online, o hype formado sobre o iPad, o tablet da Apple lançado hoje (dia 27/01/2010). E o resultado já era de se esperar: me mantive na bolha da indiferença enquanto todo o mundo especulava sobre o próximo iNãoSeioQuê da empresa do Jobs.

Nessas horas, comecei a considerar os motivos que me levavam a ignorar e não ser afetado pelo campo de distorção da realidade criado por essa empresa, e cheguei aos seguintes:

1. Não tenho motivos para usar

Não sou exatamente a pessoa mais interessada em smartphones, nem tenho condições financeiras para comprar programas na App Store (nem músicas no iTunes, mesmo que o serviço estivesse disponível em nosso país). Não faço parte do público-alvo da Apple e provavelmente usaria o Mac OS X como eu uso qualquer outro UNIX-like: predominantemente na linha de comando e com aplicações livres.

Minha necessidade para qualquer forma de criação multimídia é muito baixo (programas como o GIMP, o Inkscape, o digiKam e o Audacity suprem todas minhas necessidades audiovisuais); nessas áreas sou apenas um consumidor de conteúdo (atendido, novamente, pelos programas disponíveis para Linux), o que me exclui do público-alvo de programas como os da Adobe (as principais 'killer app' para o OS X).

2. Distância financeira

Na minha situação atual (e que provavelmente se estenderá por um bom tempo) comprar produtos da Apple é inviável, tendo em vista as opções PC que encontro (e que muitas vezes permitem o reembolso da licença do Windows) por preços similares. Por exemplo, há uns dias atrás, me mostraram um modelo de MacBook (o básico) por R$ 2799, com 160GB de HD e 2GB de RAM. Ocorre que tal configuração não me atende: seria necessário, imediatamente, colocar no mínimo um HD de 250GB e 4GB de RAM, o que se traduz em cerca de R$ 400 a mais, negando o benefício.

Para o iPhone, idem: além de não ter condições para gastar tanto no dispositivo, sou usuário de celular pré-pago, assim não podendo usar o potencial todo do aparelho sem que isso incorra em um gasto inadmissível.

Também existiria a dificuldade em conseguir manutenção, ainda mais considerando que moro em uma cidade não muito grande e bastante atrasada tecnologicamente.
3. Incompatibilidade com Linux

iPhone, iPod e outros, até hoje, têm compatibilidade fraca com Linux. Eu espero poder tratar dispositivos desse tipo como mídia de armazenamento (mass storage), como recomenda a filosofia UNIX que eu tento seguir. Não gostaria de ter que usar um programa externo para passar músicas para o meu dispositivo, e nem de ter que manter uma instalação do Windows justamente para isso.

4. Falta de uma 'killer app'

Nenhum dos programas que eu uso é Mac OS X-only (aliás, muitos deles nem sequer têm versões para esse sistema), mas vários deles ou são nativos para Linux ou rodam no Wine ou sob virtualização. Assim, a migração para esse sistema seria desnecessária e até mesmo perigosa, um exercício de paciência.

5. Inflexibilidade da plataforma

A possibilidade de comprar uma máquina personalizada, com componentes escolhidos por mim, para a Apple é inexistente (a menos que se considerem os hackintoshes, de legalidade e funcionalidade questionáveis). Não permito que me obriguem a aceitar a meia-dúzia de opções que o fabricante me dá, e mais a meia-dúzia de possibilidades de upgrades. O único modelo da Apple que ainda me permitiria isso é o Mac Pro, que obviamente está fora do meu alcance.

Meu perfil de usuário não combina com máquinas all in one, nas quais o único jeito de adicionar um segundo HD é por via externa ou que não permitem a instalação de uma segunda placa de vídeo.

6. Alienação ao fabricante

Talvez esse item soe como xiitismo meu, mas com o uso de Linux e outros softwares livres aprendi a sempre questionar (e, quando possível, evitar) o uso de padrões, formatos e sistemas proprietários. Não me interessa em nada a ideia de precisar de hacks para usar o Mac OS X em máquinas não-Apple, ou de ter meu estilo de vida digital amarrado a um único desenvolvedor.

7. Incompatibilidade com meu perfil de usuário

Esse item pode ser visto como uma continuação do primeiro da lista. Aprendi - principalmente, com o uso do Arch Linux, a apreciar programas configuráveis em arquivos texto, scripts sofisticados em linha de comando, programas leves, entre outros.

Não acho que interfaces de configuração sejam ruins, desde que elas criem arquivos legíveis e façam seu trabalho de forma simples e direta. Coisas que, até onde vai meu conhecimento, não existem nos produtos da Apple: não é muito fácil configurar aplicações pela linha de comando, por exemplo.

8. Fanboys evangelizadores

Acredito que, ao lerem os 7 itens acima, vários fanboys irão vir aqui e tentar me convencer. E talvez seja essa a coisa que eu mais odeio em relação à Apple. Os incansáveis evangelistas, presos em seus campos de distorção da realidade, inventando necessidades que eu (e muitos outros usuários) não temos.

E, com incrível incapacidade de responder sobre detalhes técnicos, como sempre, se esquivando quando faço perguntas mais avançadas.

Acredito que esses sejam os principais motivos pelos quais eu não me interesso pelos produtos da Apple. E, enquanto toda a imprensa para e acompanha o mais novo lançamento da empresa do Jobs, fico com o meu think different, que faço há um bom tempo: não me deixar enrolar pelas propagandas, nem tentar me adaptar a um estilo de vida digital que em nada combina comigo.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Blog em modo de baixa tensão

Devido a problemas físicos fora do meu controle, provavelmente só atualizarei o blog em Fevereiro. Janeiro tem sido um dos - senão o - mês mais tenso até agora, totalmente sem condições.

Fiquem na espera, pretendo voltar com algo relativamente interessante até lá.

Obrigado,
Renan