- Só haverá a verdadeira inclusão digital se o tablet e os conteúdos que nele rodarem forem livres. De forma contrária, simplesmente se aprofunda a dependência tecnológica, fomenta-se a pirataria (o aluno com um iPad vai precisar do iTunes, por exemplo - o qual obrigatoriamente precisa do Windows ou do Mac OS X), a dependência de formatos proprietários e o não-desenvolvimento de soluções, além da obsolescência programada chamada DRM - uma obsolescência a qual não pode ser contornada de forma lícita.
O livro em papel pode ser um dinossauro, pode estar "obsoleto" (duvido muito), mas ele será legível para sempre se bem-conservado; podemos dizer o mesmo dos e-books? Daqui a 20 anos eu poderei reler um e-book que comprei hoje? Acredito que não, devido à maravilhosa mina de ouro que é o DRM.
- Não adianta o modelo de aula eu tenho o mundo aos meus dedos se, na hora da avaliação, todos recaem àquela prova teórica, que exige decoreba de fórmulas e de fatos. Tampouco tablets são úteis em regiões onde o acesso a internet é limitado ou inexistente.
- Imaginemos aquele aluno que mora em uma região afetada pela violência, e que sempre vai de ônibus para a aula. Há como garantir que ele não será assaltado simplesmente para levarem o tablet dele?
Uma das soluções que pensei seria um sistema análogo àquele usado para rastrear caminhões, cujo acesso seria restrito à diretoria das escolas, às polícias e às secretarias de Educação, e que permitisse facilmente acompanhar onde está um tablet roubado.
Porém, isso suscita questões relativas à privacidade e o mau uso dessas ferramentas, que permitiriam um diretor mal-intencionado saber onde um aluno está.
- E aquele aluno bagunceiro, que vai para a aula apenas para arranjar confusão e chamar os outros de "viado"? Ele merece um tablet, que provavelmente será usado para assistir pornografia e dar um jeitinho de entrar no Orkut e no MSN durante a aula? Acredito que não.
- Muitos professores não querem se renovar, posto que chegaram na sua zona de conforto; é bem possível que eles usem os tablets como porta-copos, ou não queiram mudar suas aulas.
- Por fim, considero que nossos problemas na educação são low-tech: é hipocrisia falar em tablets na sala de aula quando muitos alunos sequer têm salas adequadas para estudar, quando muitos professores são impotentes perante os alunos mal-educados, e quando não se pode garantir que o tablet não será roubado na próxima esquina para trocar por uma pedra de crack.
Gostaria de ver alunos aprendendo a se expressar, a desenvolver o raciocínio lógico, usando softwares livres para criar pequenos projetos: sites, programas etc... Claro que um aluno não vai sair do ensino médio criando patches para o kernel ou fundando uma startup da Web 2.0, mas garanto que de dentro de uma aula dessas podem sim sair excelentes ideias - o que dificilmente aconteceria se os alunos se posicionassem de forma passiva, apenas recebendo conteúdo, e precisando de um Mac pra rodar o SDK do iPad.
É totalmente possível fazer isso com software proprietário, porém realmente é certo obrigar os alunos a piratearem um software para usar em casa, ou viver de esmolas disfarçadas de doação de licenças?
É certo obrigar eles a serem dependentes de uma empresa e dos seus caprichos?
É certo alienar os alunos e criar uma geração dependente de um único fabricante, assim aprofundando o oligopólio das grandes empresas? Acredito que não, e tampouco que isso tudo seja aceitável e adotado em nome da "modernização" do nosso ensino, quando nossos problemas são muito mais prosaicos e se resolvem sem nenhuma tecnologia mais avançada.