terça-feira, 21 de julho de 2009

A nuvem é negra, e eu não me arrisco nela

Qualquer pessoa que esteja mais ou menos ligada nas notícias de tecnologia já ouviu falar da nuvem e que todos os softwares vão para ela. Se há algo de bom, ao menos ela teoricamente (teoricamente, eu disse) livra os usuários da necessidade de fazer backup, e também de problemas de compatibilidade entre versões (como eu já vi muitas vezes: trabalhos editados no Office 2007 não conseguem ser abertos nos Office mais antigos).

Ficam algumas perguntinhas simples, mas que ninguém responde e a grande mídia - perdida no cool factor e nas buzzwords - ignora:

- Qual o sentido de tornar um computador completamente dependente da internet? Iremos ver, no futuro, argumentos como não conseguimos fazer nada hoje, porque todos nossos documentos estão 'na nuvem' e a nossa conexão está fora do ar? Queremos realmente retornar à época dos terminais burros?

Estamos em um país no qual, infelizmente, as conexões móveis não são tão robustas quanto seria o ideal. E é uma experiência torturante usar as tais aplicações web em uma conexão um pouco pior; parece que elas foram projetadas para um mundo maravilhoso no qual links de alta velocidade surgem no meio da rua e estão sempre 100% disponíveis.

- O que acontece se, amanhã ou depois, o servidor com meus dados for invadido ou seu dono decidir mudar a licença de uso? Ou se ele for vítima de um dos vigilantes da propriedade intelectual, que devido à suposta ameaça de um único usuário , decidiu que TODOS os documentos deveriam ser entregues? É bastante simples dizer don't be evil, mas é difícil colocar isto em prática com uma arma apontada na sua cabeça (o sonho de muitos desses vigilantes).

Muitos usuários não lêem as letrinhas miúdas perdidas no legalês denso e ofuscado dos contratos de licença. E não posso condená-los, pois na prática seria necessário um advogado para interpretá-los. Cabe, então, aos provedores de serviços escreverem tais termos em uma linguagem legível aos meros mortais (afinal, não são eles o público alvo desses serviços?), mas aparentemente não vimos nenhum esforço nesse aspecto.

- O mesmo pode ser aplicado para documentos realmente confidenciais. Você se sentiria seguro armazenando, por exemplo, dados financeiros ou planos de marketing da sua empresa em um servidor fora do seu controle?

- São viáveis, considerando uma conexão comum, aplicações mais complexas do que as de produtividade? Ainda não consigo imaginar, por exemplo, um CAD ou um editor de vídeos rodando on-line sem depender de tecnologias proprietárias como o Flash, fonte de reclamação para muitos usuários - especialmente aqueles que não usam Windows.

- Há um importante fator humano entre todos estes fatores. Não acho que seria interessante perder meus dados graças a um administrador de sistemas que restaurou a fita de backup errada. Nem correr o risco de ser vítima de um sysadmin mau-caráter.

- E, em uma conclusão das perguntas acima, queremos colocar todos os nossos documentos e trabalhos em sistemas que não nos pertencem e sob os quais não temos praticamente nenhum controle?

Continuo preferindo minhas aplicações off-line. Aquelas que muitas vezes não são compatíveis entre plataformas e não rodam dentro de um browser. Aquelas que é necessário atualizar manualmente, e que estarão disponíveis mesmo que eu esteja em uma ilha deserta, sem conexão com a internet em um raio de 500km.

Mas continuo cético quanto às promessas da nuvem. E não acho muito interessante, para um usuário que prefere formatos e softwares livres, esse verdadeiro downgrade que é a dependência dos serviços de uma empresa.

Um comentário:

  1. Concordo com você...
    Me bateu esse medo pois eu tinha mandando meus documentos pra nuvem com o Dropbox.
    Fico com medo do serviço sair do ar ou do próprio Dropbox estiver indexando os nossos arquivos :( (GMAIL também 'faz' isso...).
    Estou seriamente pensando em regredir para o offline :(

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