terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Mindshare: a pirataria como forma de marketing

Vejo muita gente, especialmente na comunidade de software livre, desejando que a Microsoft, e outras empresas de software proprietário, tomem medidas mais agressivas contra a violação de copyright, vulga "pirataria". (In)felizmente, isso não vai acontecer - não tão cedo. Por um motivo bem simples: mindshare.

Apesar das supostas estatísticas que dizem o contrário, a pirataria pouco ou nada prejudica essas empresas - se ela é tão ruim assim, como explicar o fato de Microsoft, Adobe, Apple et. al. sempre registrarem enormes lucros?

Elas perdem um pouco de dinheiro, mas ganham algo muito mais importante: publicidade e usuários - o que muitas vezes vai ser um fator na hora de uma empresa (que, naturalmente, não irá usar software pirata, devido ao baixo custo-benefício - a licença do Windows tem um valor irrelevante para compras maciças), escolher uma solução user-friendly, e na formação de um ecossistema com um ciclo de feedback positivo (mais pessoas usam Windows, forneceremos mais serviços para tal plataforma, mais pessoas usam...). Em termos mais simples, a clássica estratégia do "dê as drogas de graça e crie viciados", que funciona muito bem.

O que seria da Adobe se os "dizáine gráphico", ou mesmo o artista amador (aquele que divulga sua arte em sites como DeviantArt, Flickr etc...) usassem o GIMP, o Inkscape e desenvolvessem HTML5 em vez de usar o Photoshop, o Illustrator e o Flash, respectivamente, ou mesmo um professor do curso de Design decidisse pelo uso de tais ferramentas? Provavelmente photoshop não teria virado um verbo ("eu vou me photoshopar aqui pra ficar mais bonita" ou frases do tipo), e a Adobe (por exemplo) deixaria de vender licenças para universidades.

E o que seria de técnicos em formatação de Windows que, perante a redução na massa de usuários de Windows pirata (assumindo que a maioria dos "ex-piratas" migrasse para Linux), visto que eles não teriam muito o que fazer, já que Linux não é tão facilmente quebrável por um usuário leigo - a menos que eles se reciclassem? Provavelmente veríamos vários desses desempregados.

Somando-se a isso, também, o fator FUD: se a grande mídia noticiasse que usuários domésticos foram punidos por usar software pirata, provavelmente os indecisos (aqueles que mantém um Windows não-original em uma VM, ou em dual-boot) iriam ter um bom argumento para tirá-lo de suas máquinas e convencer outras pessoas a também migrar.

Outra questão relevante é que, para o usuário doméstico, efetivamente o Windows e outros programas comerciais são gratuitos (ou custam R$ 5 no camelô). Assim, não há muita motivação para um usuário leigo migrar para software livre, ou mesmo procurar alternativas mais econômicas a softwares comerciais que ele usa de graça. Assim, a pirataria acaba tendo um efeito colateral de desmotivar a busca de outras opções gratuitas ou de menor custo - mas não é isso que as empresas querem, de certa forma? 

Na música acontece algo similar: por mais que as gravadoras digam que a pirataria prejudica a música, muitas vezes é ela que aumenta o alcance desta. Desde o ouvinte de uma banda underground que só consegue ter contato com ela através de um download - visto que a gravadora decidiu não trazer os álbuns dela para o Brasil, por questões mercadológicas, até a pessoa que baixa uma música, conhece uma banda e apresenta ela para os amigos, que repetem o processo. De certa forma, a pirataria ajudou a formar um meme que faz a cabeça de muita gente. Algo bem desejável para os artistas, que certamente terão mais fãs nos seus shows.

As empresas dificilmente irão querer mudar uma situação que, de certo ponto de vista, é boa para elas: uma forma eficiente de desencorajar a busca por alternativas livres, e que pode render um dinheirinho, um rio de lágrimas de crocodilo, e 15 minutinhos de FUD na forma de processos. A pirataria torna-se um eficiente marketing gratuito, mais abrangente que campanhas milionárias de publicidade, em uma situação ganha-ganha (ou usando o termo que o TV Tropes usa, Xanatos Gambit - dica, não visite se você não quer se perder naquele wiki. Não diga que eu não avisei).

Um comentário:

  1. Essa história toda de artistas ganham dinheiro com shows e download de música pela internet só prejudica as gravadoras (se prejudica alguém) é muito boa pra consciência das pirateiros, mas é uma generalização equivocada (como todas, alias). Já ouvi notícias de alguns cantores e bandas menos famosas dizendo que eles dependem sim de CDs pra ganhar uma graninha (por menor que seja a porcentagem que as gravadoras pagam) e que essa modinha de não ligar pra download tah fodendo com eles. Idem aquela entrevista do neil Gaiman dizendo que não liga pra pirataria, liga é pra pessoas que não leêm. Ok, altruístico, mas porra, ele é NEIL GAIMAN! Ele não precisa se preocupar com pirataria, ele é um gênio reconhecido que provavelmente come editores com bacon e ovos no café da manhã. O cara desconhecido que acabou de publicar seu primeiro livro de fantasia tah na merda se cair na internet e ninguem mais comprar. Mesmo o drama dele sendo menor, já que a galera que pirateia livros não tah de histórinha quando diz que compra os originais depois (as vezes), mas, ainda assim.

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