domingo, 3 de abril de 2011

O professor mais-ou-menos

Gostaria de poder dizer que sempre tive excelentes professores na faculdade, mas infelizmente a realidade é outra. Tais professores, infelizmente, parecem cada vez ser mais uma exceção, e a maioria deles são os professores mais-ou-menos (os professores ruins e muito ruins existem, mas são poucos - considero como 'mais ou menos' o que o pessoal chamaria de 'professor ruim').

Normalmente, o professor mais-ou-menos é aquele que se contenta com pouco. Se contenta com ir para a faculdade, dar sua aula e depois voltar para casa. Nunca está disponível para ajudar os alunos, não se envolve em nenhum projeto de extensão, de pesquisa ou de reciclagem. Pode ficar com o mesmo conhecimento para sempre, afinal é o que basta para ele dar a mesma aula durante anos.

Ele usa o mesmo material de aula há muito tempo, várias vezes com os mesmos livros que ele usou na graduação. E é irônico ver que, ao passo em que a cobrança para com os alunos em relação à atualização é ferrenha, o professor pode se dar o luxo de ficar estagnado e repetindo o mesmo conteúdo mecanicamente durante anos.

É aquele professor que encontra motivos para prejudicar seus alunos: desconta pontos por picuinhas em uma prova, tais como um passo não-crucial omitido em um cálculo, rejeita o uso de calculadoras pela paranoia dos alunos poderem usá-las para colar, diminui a nota da turma toda pelo erro de um aluno, etc... exceto na hora de ajudar as meninas que ele sonha em comer. Que transforma uma matéria interessante em algo absolutamente chato.

Já que eu falei em ajudar as meninas, posso citar uma historinha que aconteceu semestre passado comigo: durante uma prova, o professor se levanta e do mais absoluto nada começa a ajudar uma menina da sala. Se um menino fosse lá fazer a mesmíssima pergunta para ele, recebia um belo te vira, estamos em prova. Hipocrisia, hipocrisia ou tentativa de um professor forever alone de puxar o saco de alguém?

Ele não sabe como reagir perante os avanços nas ferramentas de ensino: slides? Apenas para serem lidos de forma monótona e mecânica. Trabalhos? Precisam obrigatoriamente serem entregues impressos - pergunto o que esse professor faz com os trabalhos de semestres passados. Internet? Não presta, tem muita besteira (e de fato tem, mas espera-se que todo aluno universitário, e que todo professor saiba separar a informação válida da ruim, verificar fatos e fontes etc...).

É aquele professor que surfa na onda da estabilidade, que chegou à sua zona de conforto e que dela só sairá quando se aposentar. Que confunde experiência com direito a estagnação, ou anos de carreira com experiência - já vi muitas pessoas há anos fazendo a mesma coisa e que não melhoram, continuam sendo mais-ou-menos nisso. Por sinal, o profissional experiente não é aquele que sobe de nível na cadeia empresarial, recebendo mais responsabilidades e afazeres por isso?

Ele cobra dos alunos o que ele não consegue oferecer: exatidão, organização, responsabilidade e compromisso. O que dizer de um professor que não planeja as aulas e vai fazendo tudo on the fly, decidindo aleatoriamente qual é o próximo assunto? De um professor que enche dois quadros com cálculos para chegar no fim e "ah, eu errei lá no começo"? Lamentável.

Confunde quantidade com qualidade, atola os alunos com exercícios que podem ser feitos de maneira mecânica, ao invés de dar uma pequena quantidade de exercícios de alta qualidade e que façam o aluno pensar. Dá provas de decoreba, de resolução de problemas teóricos [1].

E talvez eu seja pessimista, cínico etc... mas infelizmente noto que os bons professores são poucos, e cada vez mais raros. E normalmente esses bons professores são jovens, ao contrário do que alguns insistem em dizer no que toca a experiência (o professor mais experiente supostamente deveria ser melhor).

Enquanto isso, vamos com os professores mais-ou-menos, já que principalmente nas universidades federais os alunos têm pouco poder de decisão: não vão ser eles que vão conseguir demitir um professor, a menos que algo muito grave ocorra. Os professores mais-ou-menos estarão lá até que a morte ou a aposentadoria os separe das mesmas aulas chatas que eles dão há anos.

[1] É claro que há disciplinas onde tais problemas são necessários - Cálculo e Física, por exemplo. Mas nas disciplinas de aplicação, nas profissionalizantes, é válido obrigar o aluno a decorar informações puramente teóricas e despejá-las no papel, em vez de fazer com que ele pense e aplique o que ele sabe para resolver um problema - assim como no mundo real?

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