domingo, 13 de novembro de 2011

Platitudes diversas

Uma palavra bem interessante que descobri esses dias: platitude. Segundo o  Wikicionário, significa um comentário aparentemente inteligente, porém banal, raso. E perfeitamente adequado para descrever o uso de algumas outras palavras e expressões que vemos por aí.

A primeira, e a mais empregada, delas, é a tal da consciência. A moda é ser consciente. É conscientizar. Colocar essa palavra em qualquer sentença é bem eficaz para passar a ideia de engajamento. Mesmo que essa consciência seja apenas no momento em que se compartilha uma foto no Facebook. Consciência se veste como quem veste uma camiseta de marca - e é tão profunda quanto uma. Mas afirmar que está consciente de um problema qualquer é bonito, tem uma beleza oculta que palavras como conhecer, entender etc... não têm.

Outra grande platitude é aquela que permeia as marchas contra a corrupção, pelo meio-ambiente etc...: alguém em sã consciência é a favor da corrupção (excetuando aqueles que por ela são beneficiados)? Alguém que tenha o mínimo de inteligência (excetuando-se aqueles que deliberadamente a desligam para lucrar mais) é a favor da destruição ambiental? Atiram em todas as causas ao mesmo tempo, e não acertam em nenhuma. Mas tudo bem, é bom para a sofrida e escorchada Classe Média.

Também temos aquele discurso comercial recheado dessas, empregando-as como se fossem grandes inovações: Otimizar. Disponibilizar. Dinamizar. Sustentabilidade. Inovação. Empresas pagando grandes somas para assessorias de imprensa escreverem que Objetivando dinamizar o mercado, a Padaria do Zé oferece um novo conceito em pão.... Como se impactar (de forma positiva ou negativa) o mercado não fosse o objetivo de qualquer empresa, e como se disponibilizar produtos e serviços inovadores, de forma eficiente e sustentável, não fosse o que todas as empresas fazem (ou ao menos fingem).

Quase qualquer discurso político tem um delicioso recheio de platitudes. Melhorar a cidade/estado/país através da educação/saúde/indústria etc... são falados de forma pomposa. A criminalidade é um problema; também o são a corrupção, o meio-ambiente e as desigualdades sociais. Deixam em aberto como isso será (se é que será) feito - resolvê-los é atribuição básica de um político, e não uma meta em si. Mas isso cai bem nos discursos deles: se no mandato de um prefeito, 3 pessoas em uma cidade de 100 mil deixarem de ser pobres, tecnicamente, isto é uma melhoria.

E a auto-ajuda? Basicamente um conjunto de platitudes embebidas em um discurso obscurantista, sendo vendidas como conhecimento profundo e secreto. Palestras de motivação: não se deixar abalar pelos erros, procurar conhecimento etc... Regras foram feitas para serem quebradas, e Deus ajuda quem cedo madruga. Fica bonito vindo da boca de um palestrante, não acham?

Platitudes são uma ótima ferramenta para parecermos intelectuais, cultos, profundos, engajados, para nos escondermos sob um discurso, ou mesmo se quisermos ser demagógicos e manipuladores. E enquanto isso, continuemos objetivando disponibilizar melhorias sociais sustentáveis de forma consciente, para vencermos os desafios, pois afinal a fila anda.

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