Podem me chamar de pessimista, mas cheguei à conclusão que a educação no Brasil nunca será levada à sério. Por quê? Simplesmente porque um povo bem educado tem uma arma muito grande nas mãos, que é a crítica e a rejeição. A capacidade de dizer discordo de tal coisa, não preciso disso, isso está errado, a capacidade de organização e de manifestação como vimos em vários outros países. E isso vai contra muitos interesses: do governo, dos líderes religiosos, de alguns grupos de empresários etc...
Com educação boa, onde as pessoas aprendam a pensar e a avaliar os impactos de suas atitudes no meio-ambiente e na sociedade, cai o consumismo, cai a manipulação que a propaganda tenta causar. Propagandas não funcionam contra uma pessoa que saiba desmontá-las e reconhecer todos os artifícios usados nelas, não se deixando enganar pelos estilos de vida felizes que podem ser comprados em 48 vezes. Crianças que aprendam o valor do dinheiro, do trabalho, da responsabilidade social e ambiental desde cedo? Não sobra espaço para o lucrativo filão da publicidade infantil.
Criando pessoas críticas, que leiam e entendam o que está escrito em contratos, licenças e termos de uso, prejudica as empresas que enfiam cláusulas abusivas neles. Pessoas que conheçam seus próprios direitos e deveres e saibam defendê-los e cumprí-los, respectivamente? Perdem-se os adevogados que vemos por aí (sem desmerecer os bons profissionais), os contratos que sempre prejudicam o idiota - digo, cliente etc...
Pessoas educadas para o respeito e a tolerância não são homofóbicas, nem racistas. Não sobra espaço para o discurso de bancadas religiosas que inventam argumentos em Deus para o ódio e a intolerância. E, por sinal, a religião é uma das mais prejudicadas com um ensino de verdade: em observações pessoais (sem valor científico), noto que justamente as pessoas com maior nível cultural têm uma propensão maior ao ceticismo e ao ateísmo. Uma escola laica, que não tenha medo de mostrar o que realmente está por trás das religiões, uma escola que use e ensine o método científico em todas as atividades, é um grande pesadelo para os religiosos mais fanáticos e para o país do dízimo com débito em conta.
Aliás, uma escola sem rabo preso, onde não houvessem tabus para discutir assuntos polêmicos, seria um inferno... para os políticos, que veriam suas ideologias e suas atitudes discutidas abertamente em sala de aula. Para as elites que ainda tentam enfiar garganta abaixo um modelo ridículo de progresso, legislando a seu favor. Para quem usa o medo e a desinformação como ferramenta para controlar seus rebanhos. Uma escola onde não houvesse vergonha ou problema em discutir sexualidade, religião, drogas, sistemas econômicos, meio-ambiente etc... iria ser excelente para os alunos - em todos os aspectos, mas péssimo para vários outros setores da sociedade.
Outro fator limitante é a família do aluno. Como um pai ignorante vai lidar com um filho que chegou da aula aprendendo que ser preconceituoso é algo errado? Uma família fortemente religiosa vai gostar de ver seu filho questionando a Bíblia e a religião dela? Certamente não. E nenhum pai gostaria de ser repreendido por um filho que aprendeu que fazer malandragem é errado.
Por fim, lembremos das escolas particulares, cursinhos e faculdades pagou-passou -o certamente eles não gostariam de se verem desnecessários devido a um ensino público de qualidade e acessível a todos os alunos interessados (algo diferente do "liberou geral" que alguns propõem, e que certamente irá atrair muitos maus alunos ou alunos mais-ou-menos).
Se um dia o ensino for além de preparar para vestibular/concurso público e de melhorar indicadores em português e matemática, se um dia ele formar pessoas que pensem, que questionem, que critiquem, que rejeitem, que digam não, muita gente sairá incomodada. O governo vai perder muito dinheiro com os impostos que ele deixa de arrecadar com a redução do consumismo, as camadas mais intolerantes da igreja vão se ver em maus lençóis quando os dogmas bíblicos forem questionados... ou seja, tudo que vai de encontro aos interesses de camadas influentes na sociedade.
Bravo! Belo post, Renan, somente com uma educação de verdade o Brasil poderia ser um país de primeiro mundo, verdadeiramente.
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