Recentemente, estava refletindo sobre o fato da grande mídia nunca noticiar sobre o software livre e as licenças de copyleft como alternativas à pirataria, tampouco falarem sobre DRM, guerra de patentes etc.... o que me leva a algumas considerações sobre o jornalismo de tecnologia, especificamente nas revistas.
Nos anos 80 e 90, era comum vermos artigos extensivos em revistas: páginas e mais páginas de benchmarks entre diversos softwares competidores. Era interessante pois cada avaliação vinha com um comentário aprofundado, explicava a metodologia empregada para o teste e suas limitações etc... Pode ser que não fosse imparcial, mas certamente era muito melhor do que as revistas atuais. Coisas que eram extremamente bem-vindas, afinal um computador era caríssimo, a internet era inexistente ou limitada, dificultando o feedback e a troca de opiniões.
Porém atualmente, o que vemos são verdadeiras revistas de gadgets e de tendências: apps que você precisa para seu dispositivo com iOS. Como ganhar dinheiro com o Facebook ou como ser o próximo Zuckerberg. Benchmarks de notebooks caríssimos que estão fora do seu alcance (aham, Cláudia, aham que alguém gasta R$ 9 mil em um notebook). Ou mesmo revistas de fofocas: temos uma foto em baixíssima resolução do iPhone 5 e vamos especular sobre os possíveis recursos. Fulano de Tal fez tal coisa no Twitter e conseguiu 500 mil seguidores. Nada muito profundo.
Comentários mais técnicos, mais aprofundados? São raridade. Comparativos honestos entre softwares - tanto livres quanto proprietários - onde qualquer pessoa tenha acesso à metodologia usada para fazê-los? Idem: benchmarks se restringem a quantos FPS conseguimos com tal jogo. Discussões sobre aspectos éticos e sociais da tecnologia? Inexistem ou são bastante rasas - até porque discussões mais profundas provavelmente causariam a ira de muitos anunciantes - a Microsoft não gostaria de ver um anúncio seu do lado de uma matéria na qual está sendo analisada a questão do DRM e das patentes de software.
Por sinal, pergunto-me: comparativos de softwares ainda são relevantes? Talvez fossem importantíssimos na época da internet discada, onde um download de 50 MB levava uma tarde toda, mas atualmente posso baixar vários programas, instalar em máquinas virtuais recicláveis e tirar minhas próprias conclusões - tudo isso em pouco tempo. Se eu precisar de um software para alguma coisa, procuro no Google e na hora acho resenhas e comparativos; ou acompanho blogs nos quais frequentemente acho sugestões e ideias interessantes.
Finalmente, uma revista mensal é inadequada para uma área onde tudo pode mudar em questão de semanas. Não me interessa saber que mês passado saiu a versão nova de X, quando um blog já noticiou isso assim que X saiu. E tampouco adianta fazer uma "edição digital" que se comporte exatamente como uma edição física: recursos fundamentais de revistas digitais são índices, poder copiar e colar, links que funcionem. Cada vez que você gera um PDF sem índice, um bebê foca morre.
Felizmente, satisfaço essas necessidades com blogs e fóruns excelentes: Phoronix, Linux Today, Slashdot, BR-Linux (inclusive costumo dizer que meu dia não começa sem que eu tenha lido o BR-Linux e o Slashdot), entre vários outros que leio por RSS.
Sinto falta de revistas feitas para quem emprega tecnologia profissionalmente no seu dia-a-dia. Revistas que se aprofundem em assuntos interessantes e relevantes ao usuário profissional, e não simplesmente a quem folheia um catálogo de brinquedos eletrônicos. Revistas feitas para serem apreciadas, com conteúdo para aprendizagem e aplicação, e não simplesmente para irem para a sala de espera do dentista depois que eu terminei de ler.
Aliás, entro no site de uma certa revista e uma das notícias mais lidas é... o lugar onde o Zuckerberg passou o Reveillon. Estou lendo uma revista de tecnologia ou uma Caras do mundo nerd? (aliás, uma revista de fofocas do mundo da informática se chamaria T.I.-T.I.-T.I.? :)
Créditos da foto: Tim Malone
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