Hoje (03/11) e amanhã, está acontecendo o ENEM (por sorte só precisei fazer uma vez, em 2007, na época em que ainda não era válido como entrada para o vestibular). Como todos os anos e em qualquer concurso público de grande porte, sempre há alguma trapalhada - felizmente nesse ano não houve nenhum vazamento de prova - e invariavelmente existem pessoas que conseguem fazer besteira.
Começa pelo falso anúncio de um suposto cancelamento da prova, que percorreu as redes sociais e foi o suficiente para muita gente perder a prova. Chegamos a uma inversão fantástica, sobre a qual já falei aqui no blog: um quase-anônimo, um troll, falando em uma rede social tem mais peso e gera mais buzz do que o próprio organizador da prova!
Outros chegaram atrasados, como sempre encontrando bodes expiatórios: foi o trânsito. Foi isso e aquilo. Faltou ônibus. Pode ser que tenha faltado, mas nada invalida a irresponsabilidade de chegar uns 30 minutos antes da prova. Aliás, se fosse para ir a qualquer outra coisa sem ser uma prova, essas pessoas estariam lá horas, dias antes. Teriam todo um esquema de deslocamento para ir a uma festa ou a uma final de um jogo, mas não fazem o mesmo para uma prova? Interessante...
Alguns dos que entraram, já começaram sendo expulsos por tirarem fotos das provas ou twittarem de dentro da sala de prova. E o mais legal de tudo: dá pra ver o username de uma dessas pessoas... e olhando no Instagram dela: ela deletou a foto, já tarde demais. Que legal, não? Que orgulho para todos os amiguinhos e familiares dela ver o nome dela estampado nos sites de notícias, junto com a informação de que a prova seria anulada. E mais bonito ainda é não ter responsabilidade pelo que faz e sair correndo para consertar as cagadas.
Mas o pior de tudo: gente que, não tendo sido enganada pelo cancelamento da prova, e nem tendo chegado atrasada, tirado fotos das provas ou esquecido de marcar o cartão, "chutou todas as questões", estava cansada pois tinha ido a uma festa na noite anterior. Quais são as prioridades dessa pessoa mesmo?
Muitos nem sequer leram (ou deixaram para ler na última hora - como é de praxe na cultura do virar a noite estudando) o manual do candidato, o edital etc... que deixava claríssimas todas as regras da prova. Preferem a opinião de um qualquer-um nas redes sociais à documentação oficial.
Simplesmente: queria ver essas pessoas em uma faculdade. Quanto tempo iriam durar lá dentro e com que aproveitamento iriam se formar (se é que iriam) se eles se portassem da mesma forma que se comportaram no ENEM, chegando atrasados, esquecendo de colocar respostas na prova e "chutando tudo" - não lembro de nenhuma prova onde eu tenha conseguido chutar.
Talvez toda essa imaturidade e irresponsabilidade explique os índices de desistência e de reprovação (combatidos com um emburrecimento da matéria nas faculdades - afinal, eles precisam de estatísticas positivas para conseguir verba, e professor que reprova muito é carrasco, só serve pra ferrar os alunos, e outras palavras impróprias para o horário).
Infelizmente, nosso problema não é apenas educação; é a completa falta de maturidade necessária para realizar uma prova e cursar o ensino superior, é a falta de capacidade de interpretação de regras e de instruções, é a falta de capacidade de diferenciar o que é verdade do que é fraude, calúnia ou enrolação, é a falta de capacidade de lembrar de um compromisso e se preparar de forma correspondente (mas garanto que se fosse uma festinha, eles já estariam preparados 2 horas antes e com todo um esquema de transporte planejado).
Ainda temos um caminho muito longo a percorrer até conseguirmos arrumar a geração de idiotas que formamos: a geração que leva tudo na brincadeira, que precisa colocar tudo a perder apenas para satisfazer seu desejo de compartilhar e de fazer piadinha, a geração irresponsável.
Créditos da foto: G1
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