quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pelo bom uso do termo "hacker"

Ser hacker não é roubar senhas, não é usar programas piratas, não é criar páginas falsas, não é €§©®€\/€® €|\/| ©øð|gø, não é usar códigos prontos, não é mostrar a configuração do seu computador para todos seus amiguinhos. Não é rotular os outros de "n00b babaca fdp", nem é "ownar". Esses são os lammers, com uma necessidade de aceitação, de ser da elite, de mostrar para os amigos a sua dificuldade em canalizar seu potencial, mesmo que para isso seja preciso apelar para a humilhação.

Hackers não são vândalos. Hackers não são criminosos. Hackers não estão interessados no seu Orkut, no seu e-mail ou no seu MSN. Hackers não querem números de cartão de crédito nem senhas de banco. Hackers não querem informações militares ou segredos industriais. Hackers não querem vingança. Esses são os crackers, criminosos que decidem usar uma fachada e sujar o nome de um movimento para encobrir suas atividades, talvez por imaturidade para responder por seus próprios atos.

Hackers são apenas pessoas curiosas, como todos nós certamente já fomos (e deveríamos ser). São pessoas diferentes, críticas, questionam, pensam e agem diferente, não seguem padrões culturais. Não seguem a mídia, não se apegam a marcas, não seguem modismos, não se deixam levar por ilusões, nem por publicidade, nem por discursos vazios.

Não somos os "seres do mal" que a mídia decidiu criar, baseada em um conjunto de ideias incorreto. Por favor, não nos discriminem, assim como vocês não discriminariam uma pessoa que segue outra filosofia de vida. Não temos uma faixa de idade específica, somos de diversas partes do mundo, temos muitas profissões, muitos estilos, crenças, ideologias políticas, histórias de vida e realidades diferentes, somos um grupo que não possibilita a generalização.

Ainda que sejamos rotulados anti-sociais, esquisitos, feios, fora da moda, não nos importamos. Não são os rótulos que mudarão nossa atitude, pois não somos reprimíveis, não somos manipuláveis, não somos submissos, não somos produtos fabricados em série para que uma máquina venha e nos injete ideias desgastadas e programe comportamentos. Cada um de nós tem opiniões, gostos e desgostos, amores e ódios, admirações e rejeições, momentos felizes e tristes, momentos de bom-humor e momentos de seriedade, direitos e deveres, sonhos e pesadelos. Como qualquer pessoa teve, tem e sempre deve ter, sem se deixar suprimir pelas felicidades artificiais.

Saiba que, por trás de todo o conhecimento que temos hoje e das inovações que surgem a cada dia, há um hacker. Uma pessoa que não teve medo do "ser difícil". Uma pessoa que não teve medo de procurar respostas. Uma pessoa que não aceitou uma mera imposição. Uma pessoa que enxergou além do óbvio e do senso comum. Uma pessoa que, num determinado momento, enxergou uma oportunidade, um potencial. Uma pessoa que, onde os outros viam um "não há saída", viu uma possibilidade. Uma pessoa que dedicou seus esforços para tentar descobrir a origem de um problema, a causa de uma doença, a mistura de materiais exata para uma estrutura, o conjunto de valores que resolvia um problema, a mistura de substâncias que possibilitava uma reação, a teoria para explicar um acontecimento e prever suas consequências, entre outras inúmeras respostas. Todos foram hackers, em uma ou muitas áreas do conhecimento.

Que, nas mais diversas áreas do conhecimento, fomos nós que formamos revoluções. Não as violentas, marcadas por guerras e revoltas, mas sim as culturais e as do poder: não aquele ganancioso, imperialista, que leva à necessidade de dominar, mas sim o do conhecimento, o do pensamento. Um poder que todos nós temos, mas muitas vezes infelizmente não praticamos, preferindo trocá-lo pela força bruta e pela auto-destruição.

Que, talvez, esse texto não mude a opinião de muitos, talvez esse texto não chegue às mãos que manipulam e criam dogmas, redefinem palavras, fabricam preconceitos e estereótipos. Mas com certeza, esse texto representa a minha parte em uma tentativa. Uma parte pequena, é verdade, mas que todos nós podemos multiplicar, usando a mais poderosa arma que temos, uma das poucas que não deixa vítimas: nossas capacidades. De aprender, de entender, de mudar.

Mesmo assim, espero o principal: que dentro de nós, ainda que naquele pedacinho esquecido da nossa mente, viva o hacker. Não o "h4ck3r de elite" ou o bandido digital, mas sim aquela que entendo principal característica do ser humano: nosso espírito de curiosidade, de crítica, de análise. O espírito que nos leva a fazer nossa parte, ainda que muitas vezes essa tarefa seja ingrata e tenhamos que percorrer um caminho de pedras em uma noite chuvosa.

Que nunca troquemos nossa capacidade de sermos melhores, nosso respeito e nossa dignidade por um punhado de dólares ou por um brinquedinho novo. Que nunca mandemos nossos questionamentos se calarem. Que sempre estejamos dispostos a mudar. Que estejamos dispostos a progredir, apesar de muitas vezes sermos forçados à estupidez. Que sempre estejamos dispostos a reconhecer nossos erros e limitações, não os usando como forma de justificar incoerências, mas sim para transformá-los em acertos e potenciais.

Por fim, que não será o preconceito que nos fará mudar de atitudes, mas sim nós que faremos nossa parte para extinguir essa falha humana. Somos uma força, não a ser temida como vilã, mas sim para ser compreendida e respeitada, a fim de combatermos o maior de nossos defeitos: a intolerância.

np: Lacrimosa - Lichtgestalt

2 comentários:

  1. Vou invandir seu MSN! HAHAHA

    XD, pelo jeito vão é continuar por um bom tempo não sabendo diferenciar os *ackers... Triste, triste...

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  2. Já tinha lido um outro texto teu, e esse me surpreendeu (de novo). Definitivamente, você escreve muito bem, e é bom ver que usa isso não para tentar 'conquistar' menininhas, mas sim... para falar sobre o que sabe e acredita.
    Meus parabéns ;x

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