terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tudo bem, é só um jogo

Acabou a novela. Nas salas de estar, quartos, e talvez até nos banheiros de quase todo o Brasil, as TVs piscam. Todo mundo trocando para a Globo. Vai começar a atração principal da noite, todo mundo está concentrado, em um verdadeiro ato de devoção, para assistir o show da realidade, que expõe o ser humano.

Uma realidade alternativa, na qual todos são bonitinhos (ao menos para os padrões), todos são legais (exceto, talvez, por um barraco para aumentar a audiência), todos estão "em forma", todos estão (ou ao menos fingem estar) felizes, todos com as suas dignidades sendo trocadas pela possibilidade de ganhar um prêmio. Ah, e tem mulher gostosa! O que mais alguém poderia querer?

A plateia aplaude, pegando seu telefone e votando no candidato que deve ser eliminado. Uma votação sem auditoria, sem validade, mas tudo bem, quem se importa? São só alguns centavos, pouquinha coisa, o resultado levará ao mais importante: a discussão do dia seguinte. Em todos os lugares ouvem-se comentários do tipo oh, viu que o fulano de tal saiu?, viu que a sicrana foi pro paredão?, as entrevistas e - se for mulher, um ensaio fotográfico em uma revista masculina qualquer. Uma bobagem qualquer vira uma manchete, desde que feita sob a vigilância de câmeras.

I wanna be in the headlines
Anything to be in the headlines (Alice Cooper - Headlines)
"Eu quero aparecer nas manchetes
Qualquer coisa para aparecer nas manchetes"

Quando eu tentei trazer essas ideias à discussão, me disseram que esse programa era só um jogo e que não fazia mal. Tá, fui para o meu quarto, liguei o PC e comecei a jogar, afinal, segundo as pessoas normais, não faz mal. Alguns minutos depois, alguém entra e reclama que eu passo muito tempo jogando, que eu sou chato, não gosto de nada do que os outros gostam, que eu era viciado em jogos (aquela velha história). Agora, quem é o viciado, afinal? Eu, que alterno minhas atividades diversas com momentos de diversão? Ou quem fica na frente de uma tela, assistindo ilustres desconhecidos se pegando, e transformando isso em motivo para discussões tão fúteis quanto os "argumentadores"?

Mas tudo bem, é só um jogo.

I have no heart to lie
I can't pretend a stranger
Is a long-awaited friend (Rush - Limelight)
"Não tenho coragem para mentir.
Não consigo fingir que um estranho é
Um amigo há muito tempo esperado"

np: AC/DC - Got you by the Balls

Um comentário:

  1. Pois é garoto.. tbm me sinto muito mal quando chego em um grupo e não entendo absolumente nada do que estão falando. Infelizmente é assim, ou vc assiste essa porcaria, ou vc se torna um extraterrestre acéfalo e incomunicável!
    Parabéns pelo texto.. adorei o blog! visite o meu se puder.. bjãoo

    ResponderExcluir

Não são lidos e não me responsabilizo pelo conteúdo deles.